terça-feira, fevereiro 15, 2011

Wim Wenders, Pina Bausch e como filmar uma cena de dança


Ainda não vi o documentário de Wim Wenders, Pina (2011), apresentado anteontem no 61°Festival de Berlim, sobre a obra da coreógrafa Pina Bausch. Pelos relatos de quem estava presente, amplamente divulgados na imprensa internacional, Wim Wenders acertou em cheio ao empregar o 3D para registrar a arte de Pina.

A Folha de S. Paulo publicou uma matéria especial ontem a respeito do assunto. Segue abaixo:

Wim Wenders reinventa 3D com Pina

Por Ana Paula Sousa

E do 3D fez-se arte. A estréia mundial de “Pina”, ontem, no festival de Berlim, comprovou o que se esperava: do encontro entre a nova tecnologia e Wim Wenders nasceu algo diferente de tudo o que foi visto até aqui.

O filme começa com um dos ensinamentos da revolucionária coreógrafa Pina Bausch (1940-2009): para tudo aquilo que as palavras não conseguem expressar, existe a dança.

Foi essa a mensagem que Wenders seguiu. E se pôde segui-la tão de perto, é porque a tecnologia o socorreu.

Desde quando viu uma apresentação da companhia de Pina, a Tanztheater Wupertal, Wenders passou a carregar uma certeza: aquilo pertencia à tela grande.

Apesar disso, levou anos para pôr em prática o projeto. A razão era simples: como filmar? “Onde colocar a câmera?”, pergunta o diretor. “Se você fecha a câmera no solo de um dançarino, você perde todo o resto que está acontecendo no palco.”

A resposta veio em 2006, quando, em Cannes, Wenders viu um show do U2 filmado em 3D. Ele ligou para Pina e disse que, enfim, cumpriria sua promessa.

Graças ao 3D, sentimos, por exemplo, a cortina do teatro roçar nossos olhos.

“Pina” borra as fronteiras do gênero documental. O filme é documento – dos ensaios, do pensamento da coreógrafa – mas também encenação.

Apesar de ter sido exibido na competição, “Pina” não concorre a prêmios. Foi, no entanto, o filme mais marcante até agora.
Luiz Carlos Merten, crítico do Estadão, escreveu em seu blog, na postagem entitulada “Transe” de 13/02/11, o seguinte: “...Wenders vale-se do formato (3D) para nos projetar dentro da criação de Pina Bausch. Estou sem fala. Se o festival terminasse agora, e ‘Pina’ estivesse em competição, já teria levado o Urso de Ouro, pelo menos para mim. Momento brasileiro – ela cria uma coreografia para ‘Leãozinho’, cantado por Caetano. Puta filme bonito, meu. Nunca vi nada parecido em termos de dança. Inclusive, vou ter de confessar. O impacto foi tão grande que, momentaneamente, diminuiu meu entusiasmo pelo ‘Cisne Negro’ de Darren Aronofsky.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Cisne Negro (Darren Aronofsky, 2010)


Não há como não comparar Os Sapatinhos Vermelhos (Michael Powell e Emeric Pressburger, 1948) com o Cisne Negro. É involuntário. Nem se trata de valorizar um filme em detrimento de outro, mas o que dizer de um longa-metragem de balé que não tem um número de dança? Ou melhor, que tem dança, porém filmado sempre em primeiro plano? E o espetáculo dos corpos em movimento, a sincronia dos gestos, a interação das bailarinas com o cenário da peça? É nítido que Natalie Portman não é uma bailarina, mas como convencer o público de que o seu personagem, ingênuo, quase frígido, seria capaz de se transformar no Cisne Negro - erótico e provocativo? Dançando, não seria? Afinal de contas trata-se da encenação de O Lago dos Cisnes...

Por mais que eu goste de Natalie Portman e reconheça o esforço da sua representação, me faltou, justamente no palco, a emoção que ela disse ter sentido no final. Em O lutador (2008), do mesmo diretor Darren Aronofsky, bastou apenas uma cena dentro do ringue de luta livre para anestesiar o público - emocionar, talvez. E que cena! Tão bem filmada e coreografada, que mesmo não sendo longa, consegue ser representativa. Os planos fechados para lutas funcionam perfeitamente. Mickey Rourke foi um lutador de luta livre na vida real, seu corpo “deformado” não mente. Toda a dramaticidade da sua representação baseia-se na relação dele com o seu corpo. Infelizmente, não se pode dizer o mesmo de Natalie Portman e não sei se foi por conta da presença dela no filme que se evitou o espetáculo de dança. Nem que fosse uma dublê, a emoção da sua performance precisava ser compartilhada com o espectador. Faltou esse tempero. O filme quer que acreditemos que ela triunfou por meio da reação da platéia presente e de suas companheiras, não pelo número em si ou pelo seu desempenho no palco - mostrado na tela.

O início de Cisne Negro, em que Darren se dedica a ambientar o seu longa-metragem, guarda os melhores momentos (acompanhamos a rotina da companhia de balé): as bailarinas se aquecendo em um corredor interminável, o ritual de preparação de uma sapatilha (linhas e agulhas para costurá-la, ótima cena), o close dos pés de uma bailarina em pleno movimento de dança, o plano geral da companhia repleta de espelhos, o camarim, o palco, os bastidores de um espetáculo de dança. A fotografia de Matthew Libatique, de tons escuros saturada, reforça a sensação de desconforto desse ambiente gélido e competitivo.

À medida que os personagens que compõem a trama começam a entrar em cena, o foco se volta para a sua protagonista, Nina (Natalie Portman). Em torno dela girará apenas a sua mãe (Barbara Hershey), o diretor do espetáculo (Vincent Cassel), a sua concorrente (Mila Kunis) e de modo muito ilustrativo a sua antecessora (Winona Ryder). Da interação entre todos eles com a protagonista – relação de causa-efeito descambando para o psicologismo – se dará a explicação para os delírios mentais (e cinematográficos) colocados em cena. Tudo que foge a esse círculo de relações é evitado a fim de não se perder o clima instaurado e a atenção do público. Esta opção deixa arestas que permanecem inconclusivas, o intuito é que o filme não perca a sua rota (exemplo: quando Nina questiona a sua concorrente a respeito do desfecho da noitada que passaram juntas, ela acha engraçado e diz que nada daquilo de fato aconteceu deixando a oponente/amiga com a pergunta “Porque, você gostou de sonhar comigo?” e um sorriso debochado, como quem vai contar uma “novidade para as amigas” – as bailarinas da companhia aparecem desfocadas no fundo do plano. O encontro seguinte entre as duas se passa como se isso não tivesse acontecido).

Depois de Cisne Negro assisti ao filme de estréia de Aronofsky, π (1998). Não gostei. Seu gosto por transformar os tormentos da mente em material fílmico o leva a delírios extravagantes de filmagem que por vezes me parecem um tanto quanto exagerados. O mesmo se passa com Réquiem para um sonho (2000). Pra mim, quanto mais contido, melhor - O lutador (2008). Cisne Negro contém momentos inspirados, que bem poderiam ser mais frequentes.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Os meus preferidos da última década, só brasileiros

Numa dessas brincadeiras em redes sociais no final do ano passado, um amigo levantou a questão: quais os melhores filmes da década? Eu tenho acompanhado as publicações a respeito desse assunto nos sites recomendados aqui no blog e ainda tem algumas coisas que não vi. Tenho me esforçado bastante para assistí-los. Morar no interior dificulta o trabalho nessas horas. Pra tentar fazer alguma coisa um pouco diferente - tanto dos sites quanto da brincadeira proposta pelo amigo - vou listar apenas os filmes brasileiros que me chamaram mais a atenção. Elaborei a lista no final do ano passado e consultando-a agora não senti a necessidade de mudar nada, apenas acrescentei dois filmes.

1 – Serras da Desordem (2006), de Andrea Tonacci
2 - O Signo do Caos (2005), de Rogério Sganzerla
3 – O Céu de Suely (2006), de Karim Ainouz
4 – Santiago (2007), de João Moreira Salles
5 – Falsa Loura (2007), de Carlos Reichenbach
6 – Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho
7 – Se nada mais der certo (2008), de José Eduardo Belmonte
8 – Árido Movie (2004), de Lírio Ferreira
9 – Cleópatra (2007), de Júlio Bressane
10 – Tropa de Elite 2 (2010), de José Padilha
11 – Cinemas, Aspirinas e Urubus (2005), de Marcelo Gomes
12 – Cão sem dono (2007), de Beto Brant
13 – A Encarnação do Demônio (2008), de José Mojica Marins
14 – Houve uma vez dois verões (2002), de Jorge Furtado
15 – Proibido Proibir (2007), de Jorge Durán