domingo, março 27, 2016

A Bruxa (Robert Eggers, 2015)



A Bruxa estreou em circuito reduzido de salas, até estranhei a sua vinda para Ribeirão Preto, amparado por um hype demasiado positivo que chegou a causar frustração nos fãs de terror acostumados aos maus exemplares contemporâneos do gênero. Um dos meus colegas de trabalho disse que morreu de tédio durante a projeção, desqualificando o filme, cuja campanha de marketing o havia instigado a assisti-lo - sua expectativa era obviamente outra. A Bruxa definitivamente não pertence à vertente de filmes de terror calcada quase exclusivamente na violência gráfica, que a propósito, já rendeu ótimos exemplares do gore ou slasher movie.

O diretor Robert Eggers investe bastante na ambientação do longa-metragem ao transportar o espectador para a Nova Inglaterra do século dezessete, investindo no rigor das composições dos quadros, nos figurinos, no espaço que cerca os personagens (a Natureza ameaçadora) e na interpretação dos seus atores. O roteiro explora com maestria a dicotomia bem versus mal, tendo a religião e a figura de Deus representada no primeiro e a bruxa representada no segundo. O filme se sustenta todo na tensão proporcionada por esse choque, com alguns poucos momentos de alívio emocional. Mesmo com poucos recursos em mãos, o resultado acaba sendo extraordinário.

O mal espreita a família protagonista de protestantes (pai, mãe e cinco filhos) o tempo todo, testando a fé dos seus membros contra as suas próprias fraquezas. São antológicas as materializações carnais dessa entidade maligna, sobretudo aquelas que investem na sensualidade e sexualidade do avatar da bruxa. Mesmo a caracterização clássica da “velhinha com a ruga na ponta do nariz” não deixa a desejar, provavelmente influenciada pelas imagens distorcidas do Fausto (2011), de Aleksandr Sakurov.

No final das contas, o filme comporta uma miríade de leituras, podendo ser facilmente constatado pelas diversas abordagens críticas que pipocam na internet. A mim sobressaiu-se o rito de passagem da filha adolescente rumo à vida adulta, tendo a sua sexualidade reprimida pela influência machista e religiosa, bem características do período histórico retratado. O desfecho é assustador, embora também seja libertador. Existe uma energia encubada nesse ambiente opressor explorado pelo filme, cujo desprendimento alivia o espectador. O ritual de libertação é macabro, despertando uma sensação ambígua de alívio e desconforto. Essa ambiguidade que alimenta essas forças mutuamente opostas, a ponto de embaralhar a percepção do espectador, enriquece a fruição do filme. O “lado negro da força” se mostra demasiado sedutor para ser descartado com tamanha facilidade. A jovem Thomasin (Anya Taylor-Joy) é praticamente uma Carrie (Brian De Palma, 1976), tentando domar as energias difusas da sua sexualidade recém aflorada.

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