Só o Canal Brasil pra resgatar uma
raridade dessas. A não ser por O Homem
que Virou Suco (1980), é muito difícil encontrar algum filme da carreira de
João Batista de Andrade na net (reconheço que não sou um bom pesquisador).
Sempre que o canal anuncia qualquer filme dele na sua programação, vale a
espera (e às vezes o esforço) para desfrutar da sua relevância. Ninguém passa
batido num filme de João Batista. O cineasta sempre força o espectador a
encarar a realidade que nos cerca, adotando um estilo de abordagem direta
(quase documental) com a mesma energia de uma investigação jornalística de
qualidade.
O pano de fundo é a cobertura da eleição
para o governo do estado de São Paulo no início dos anos 80, cujo jornalista
encarregado para tal, interpretado por Antonio Fagundes (no que pode ser considerada
a melhor interpretação da sua carreira), acaba se envolvendo com uma
prostituta (Mayara Magri) jurada de morte por um assassino em série. O que era
pra ser um furo de reportagem da parte do repórter acaba por incriminar um
suspeito inocente, convenientemente perseguido pelo delegado de polícia (Othon
Bastos), adepto de práticas heterodoxas para intimidá-lo. Seus métodos de
abordagem são herança do período duro da ditadura, quando os cidadãos tiveram
suas liberdades individuais confiscadas, agravadas, neste caso, pela tonalidade
escura da pele do suspeito, usado, descaradamente, como bode expiatório. Parece
que o episódio baseia-se no famoso caso do Vampiro do Brás.
O roteiro explora uma subtrama que não
chega a integrar-se organicamente ao todo, centrada na figura de um imigrante
italiano que circula pelos becos da libertinagem paulistana, que só funciona
devido a presença em cena do grande Gianfrancesco Guarnieri. Como de hábito,
sua interpretação engrandece seu personagem.
Durante boa parte da projeção o filme me
trouxe a lembrança de Armação Perigosa (1987, Jerry Schatzberg). Neste, um
jornalista (Christopher Reeve) em busca de uma reportagem mais
"relevante" também se deixa envolver com uma prostituta cuja influência
lhe garante a matéria almejada, ao custo elevado de colocar suas vidas em
risco. Quem rouba a cena é Morgan Freeman, já com idade avançada, no papel que
lhe trouxe para o primeiro time de Hollywood. No contra senso do que se prega,
o filme brasileiro é melhor.
Muito bom, assisti naquela sessão de filmes brasileiros que passava na Bandeirantes há muitos anos atrás.
ResponderExcluirExcelente resenha!
ResponderExcluirAssisti a esse filme pela primeira vez no começo deste mês e não me arrependi nenhum pouquinho. Também curti muito a atuação do Gianfrancesco Guarnieri. Ele e o Fagundes "mandam muito bem" juntos.
Este filme está disponível para assinantes NET por meio do "now" pra assistir a qualquer momento. Quem tiver o serviço e puder assistir recomendo imensamente! Tô tentando achar na net, mas realmente, não tá fácil.
Foi assim que eu assisti Américo, pela programação do NOW. E tem alguns outros a minha espera! Fizeram uma boa seleção dos filmes do João Batista de Andrade.
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