Eu entendo perfeitamente quem
considera os filmes da Sofia Coppola chatos: ela repousa um olhar atento,
alongado, minucioso sobre seus personagens endinheirados, normalmente famosos
(ou em busca da fama), conduzindo a sua câmera observadora por “longos momentos
desinteressantes”. Seus personagens estão sempre entediados, vagando solitários
pelo mundo, tentando encontrar alguém ou alguma coisa que preencha o vazio de
suas vidas ordinárias (a despeito de todo o glamour
que as rodeia). Mas daí a considerar seus filmes ocos ou desprovidos de
interesse são outros quinhentos.
O material que ela tinha em mãos
para realizar The Bling Ring (2013)
poderia sem muito esforço acabar terminando em mais um filme de Amy Heckerling
(As Patricinhas de Beverly Hills, 1995).
O assunto é muito bom e a tentação em empregar um tom sensacionalista ao relato
não deve ter sido pouca (coisa que Hollywood gosta de fazer bastante). O filme
de Sofia aborda esse sensacionalismo sem fazer dele o seu principal foco de
interesse – a cena do tribunal, que evita o julgamento, é um bom exemplo. Sua
câmera permanece o tempo todo centrada em seus personagens.
Aos que dizem que ela mantém um
olhar isento, carente de julgamento, eu discordo. A personagem de Leslie Mann,
Laurie, que faz a mãe de Nicki (Emma Watson), não precisaria constar no filme.
Sofia, também roteirista, poderia abrir mão dela e se concentrar apenas na saga
dos adolescentes, tornando sua presença meramente ilustrativa. As poucas vezes
em que ela aparece em cena, especialmente no momento da entrevista a Nancy Jo
Sales, são determinantes para ampliar o escopo de observação da diretora: o
filme deixa de ser apenas sobre os jovens retratados e passa a ser de toda uma
sociedade, doentia com a ideia de fama e estrelato. Ninguém sai ileso.