sexta-feira, setembro 28, 2018

Pizza, Cerveja, Cigarro (Israel Adrián Caetano e Bruno Stagnaro, 1998)


Pizza, Cerveja, Cigarro me foi dado de presente por um amigo em viagem a Buenos Aires há uns bons anos atrás. Na época do seu lançamento, 1998, meu interesse passava longe do cinema latino americano, inclusive o brasileiro. O filme é praticamente o marco inicial do cinema argentino que conhecemos hoje. Acho que consigo imaginar o impacto que ele causou quando do seu lançamento. Passados vinte anos, ele ainda se sustenta muito bem. Tem a crueza/secura dos cineastas que arriscam tudo em início de carreira, como forma de transpor a habitual escassez de recursos.

Uma sequência próxima do final do filme me chamou bastante a atenção. Ela é basicamente uma reencenação do mesmo golpe dado pelos protagonistas em parceria com o motorista de táxi durante a exibição dos créditos, só que dessa vez a vítima é uma senhora, único ser humano capaz de despertar a sensibilidade dos jovens delinquentes. A personagem é um presente para a atriz Elena Cánepa, inspirada e improvável na mesma medida, que representa uma ilha de integridade num ambiente dominado pela falência das relações humanas. A sequência carrega uma leveza que destoa do restante da produção, muito embora o contexto seja conflituoso, dominado pela absoluta falta de perspectiva.

Embora ela seja a vítima do assalto, é a única pessoa que trata os meninos com dignidade, como se fossem os filhos que não foi capaz de ter. O diálogo que ela estabelece com os jovens é tão honesto e sereno, na contramão do ritmo acelerado do filme, que emerge um ambiente de aproximação e respeito, um respiro de decência e sanidade, proporcionando ao espectador uma empatia instantânea. A cena confronta a juventude e a velhice, a vida na cidade e a vida no interior e os valores morais antiquados e vigentes de forma sugestiva, sem fazer do discurso um palanque para julgamentos apressados. Da compreensão e da solidariedade surge o antídoto para o combate da estupidez e da ignorância.