A política nos filmes do Carlão dificilmente entra
pela via direta, seja ela a abordagem de um tema importante/polêmico, o retrato
de alguma figura do alto escalão do governo, uma trama conspiratória ou um
desejo irrepreensível de se fazer denúncia. Seus personagens, no entanto, vivem
cercados pelas consequências de sua prática, mesmo quando se esforçam para se
manter afastados dela. Em Bens Confiscados essa premissa é levada ao limite já que o filme todo existe em função das ações do deputado corrupto, que não dá
as caras ao público em momento algum da projeção. Sua presença é dispensável,
restando em cena apenas os efeitos nefastos da sua influência - ligados,
naturalmente, ao dinheiro e ao poder.
Caminhando na direção oposta à de um thriller
norte-americano ou italiano dos anos 1970, Carlão orienta sua câmera àqueles personagens que não costumam ganhar as páginas dos noticiários
jornalísticos. Sua dramaturgia evita o espetáculo a todo custo, trafegando
pelos espaços mais recônditos do nosso território. Mesmo nesses não-lugares,
tampouco imunes a barbárie civilizatória, seu cinema humanista encontra fôlego
para aflorar com propriedade e, sobretudo, afetividade.
A adversidade está presente, guiada pelo rastro das
ondas de perversão emitidas pelo deputado investigado, dissimulada somente pela
grandeza de seus personagens. E, embora torçamos para que essa qualidade ao fim
se sobressaia, o desfecho não nos reserva o conforto que a esperança se mostrou
incapaz de nos proporcionar. Melhor que seja assim, qualquer outro caminho
adotado seria desonesto com a nossa condição duradoura de cidadãos molestados
pela corrupção onipresente.