Por Ethan de Seife
Weekend à francesa pode ser o
mais selvagem e obscuro de todos os filmes de Jean-Luc Godard, o que quer dizer
alguma coisa. É também uma de suas obras mais audaciosas. Vale tudo na tela.
Uma conversa telefônica mundana se transforma em um número musical absurdamente
encantador, nossos heróis se encontram com personagens de contos de fadas no
bosque, e protagonistas podem ter finais horríveis a qualquer hora. A decisão
de Godard de avançar do episódico para o episódico e bizarro foi ousada e de
grande repercussão. Cineastas radicais de todas as tendências devem muito a
essa obra.
Mas “radical” seria um rótulo bem
infeliz para a película, pois conota uma politização simplista e falta de
humor. Pode ter certeza de que Weekend não
padece desses males. Na realidade, é um filme extremamente engraçado, em parte
por conta das suas atitudes políticas. A capacidade de misturar o sério, o
cômico, o belo e absurdo era apenas um dos muitos dons de Godard.
Nenhuma discussão sobre Weekend estaria completa sem a menção a
sua tomada mais famosa, provavelmente uma das mais famosas do cinema. Talvez o
esteio do filme seja a tomada panorâmica de mais ou menos 10 minutos sobre o
pior engarrafamento de trânsito do mundo, interrompida pelo gosto de Godard por
subtítulos didáticos e elípticos. Mas não se trata de um engarrafamento comum:
a versão assustadora mas hilariante de Godard inclui animais de zoológico,
barcos, um piquenique ocasional e um bocado de sangue. Mas, como o diretor
disse uma vez, não é nada para se preocupar. É tudo tinta vermelha.