sábado, janeiro 30, 2016

Os 8 Odiados (Quentin Tarantino, 2015)


É bem provável que o esforço de Tarantino junto ao diretor de fotografia Robert Richardson para encontrar o melhor enquadramento a fim de contar a estória de Os 8 Odiados funcione melhor no formato 70mm, só não sei se eu avaliaria melhor o filme caso eu tivesse a oportunidade de vê-lo em uma sala equipada com tal recurso - digo isso sem conhecimento de causa, já que nunca frequentei uma. Na comparação com Cães de Aluguel, que o próprio diretor reconhece em entrevistas como uma referência válida, acho que ele perde. Em 92, antes do estrelato de Tarantino e enquanto a película não sofria ameaça de extinção, o filme falava por si só. O frescor da narrativa fragmentada (com idas e vindas no tempo) e os diálogos afiados se bastavam, trazendo uma energia revigorante ao início dos anos 90. A escassez de recursos, facilmente constatada pelo padrão barato da produção, dava um charme aos engravatados confinados em um galpão abandonado à procura de um traidor. Agora, a indústria sobrevive criando produtos "vintage" para um público ávido em consumi-los. Essa questão exterior ao filme fomenta um merchandising que retroalimenta a própria indústria. Com a adoção da tecnologia digital para exibição dos filmes em salas de cinema, a produção por si só já não basta, junto dela tem de vir uma experiência de consumo (o 3D é o exemplo melhor difundido dessa prática).

Os irmãos Weinstein, donos da Weinstein Co., antiga Miramax, financiaram as excentricidades de Tarantino desde sempre, mas andaram perdendo prestígio ultimamente. Houve um período que suas produções eram verdadeiros papa-Oscars, chegando a emplacar mais de uma entre as finalistas com reais chances de ganho (Carol, de Todd Haynes teria sido a aposta deles deste ano).

Embora o enfoque do início do texto tenha sido negativo eu gostei do filme, mas confesso que me aborreci em alguns momentos mesmo tendo me divertido à beça. Quem mais me impressionou foi Tim Roth, que andava meio sumido do cinema, mais presente em produções televisivas ultimamente. Sua parte é menos explorada, mas sempre que a câmera se detém sobre ele o filme ganha em interesse. Tim Roth, Samuel L. Jackson e Christolph Waltz são atores Tarantinescos por excelência, com o dom de valorizar o diálogo roteirizado valendo-se exclusivamente do timing e da entonação das suas falas.

 Pablo Villaça, em seu artigo para o site rogerebert.com, intitulado, "The Brilliance of The Hateful Eight", enxerga os personagens como uma representação (um microcosmos) dos próprios Estados Unidos, um país que permanece um palco de demonstrações crescentes de intolerância contra todo tipo de minoria: negros, gays, latinos, mulheres e mais obviamente muçulmanos. O artigo explora melhor essa ideia, dando uma interessante interpretação para a carta de Abraham Lincoln onipresente em toda a narrativa.

Mesmo com uma filmografia relativamente curta, sendo esse o "oitavo filme de Quentin Tarantino", o diretor já coleciona uma gama bem variável de gêneros abordados: o filme de gângster, o spaghetti western, o filme de guerra, o kung fu flick, o blaxspoitation e o inclassificável À Prova de Morte. Uma incursão pelo terror seria muito bem vinda.