Eu fui para a sessão de Bingo
com a crítica de Isabela Boscov na cabeça. Para os que não leram, ela compara o
feito de Daniel Rezende na direção com o lançamento de Cidade de Deus (2002), do qual o próprio Daniel participou como
montador, afirmando que não houve nada produzido no intervalo de tempo com
impacto semelhante.
Mesmo eu não sendo um ferrenho defensor do filme de 2002, o fato é que ela é, trazendo Bingo para o mesmo pé de igualdade. Ainda que eu considere a importância atribuída exagerada, não posso desmerecer o entusiasmo da crítica, que compartilho de peito aberto, uma vez que o filme tem, realmente, qualidades de sobra.
Vladimir Brichta deve finalmente receber o reconhecimento pelo talento que transborda. Seus amigos e conterrâneos, Wagner Moura e Lázaro Ramos, devem estar orgulhosos do parceiro que sempre pairou na sombra e agora deve trilhar o caminho do estrelato. Merecido. Ele carrega o filme nas costas numa verdadeira tour de force, sem ofuscar o envolvimento dos outros personagens/atores, desenhados basicamente para servi-lo.
O cuidado com a qualidade da produção é exemplar. Desde os créditos de abertura, trazendo os tradicionais patrocinadores brasileiros numa reprodução de fita cassete dos anos 80, com os ruídos e falhas características desse formato, bem como a trilha sonora, que ajuda a ditar o ritmo do filme (o pessoal da Omelete traz a informação de que Rezende já fora DJ), até a fonte da legenda responsável por traduzir os diálogos do produtor americano do programa televisivo. Tudo a serviço de um mergulho na cultura pop dos anos 80.
Daniel rege toda essa parafernália saudosista com estilo,
assessorado pelo diretor de fotografia Lula Carvalho, carregando nas cores,
abusando das luzes (tem um diálogo entre o personagem Augusto, Vladimir
Brichta, e a mãe, Ana Lúcia Torres, que faz referência direta a esse aspecto) e
dos movimentos de câmera, alguns notáveis, em completa sintonia com a linguagem
adotada. O domínio da fluência narrativa e ritmo fazem a diferença.