quinta-feira, agosto 31, 2017

Bingo - O Rei das Manhãs (Daniel Rezende, 2017)


Eu fui para a sessão de Bingo com a crítica de Isabela Boscov na cabeça. Para os que não leram, ela compara o feito de Daniel Rezende na direção com o lançamento de Cidade de Deus (2002), do qual o próprio Daniel participou como montador, afirmando que não houve nada produzido no intervalo de tempo com impacto semelhante.

Mesmo eu não sendo um ferrenho defensor do filme de 2002, o fato é que ela é, trazendo Bingo para o mesmo pé de igualdade. Ainda que eu considere a importância atribuída exagerada, não posso desmerecer o entusiasmo da crítica, que compartilho de peito aberto, uma vez que o filme tem, realmente, qualidades de sobra.

Vladimir Brichta deve finalmente receber o reconhecimento pelo talento que transborda. Seus amigos e conterrâneos, Wagner Moura e Lázaro Ramos, devem estar orgulhosos do parceiro que sempre pairou na sombra e agora deve trilhar o caminho do estrelato. Merecido. Ele carrega o filme nas costas numa verdadeira tour de force, sem ofuscar o envolvimento dos outros personagens/atores, desenhados basicamente para servi-lo.

O cuidado com a qualidade da produção é exemplar. Desde os créditos de abertura, trazendo os tradicionais patrocinadores brasileiros numa reprodução de fita cassete dos anos 80, com os ruídos e falhas características desse formato, bem como a trilha sonora, que ajuda a ditar o ritmo do filme (o pessoal da Omelete traz a informação de que Rezende já fora DJ), até a fonte da legenda responsável por traduzir os diálogos do produtor americano do programa televisivo. Tudo a serviço de um mergulho na cultura pop dos anos 80.

Daniel rege toda essa parafernália saudosista com estilo, assessorado pelo diretor de fotografia Lula Carvalho, carregando nas cores, abusando das luzes (tem um diálogo entre o personagem Augusto,  Vladimir Brichta, e a mãe, Ana Lúcia Torres, que faz referência direta a esse aspecto) e dos movimentos de câmera, alguns notáveis, em completa sintonia com a linguagem adotada. O domínio da fluência narrativa e ritmo fazem a diferença.

sexta-feira, agosto 04, 2017

Invasão Zumbi (Sang-ho Yeon, 2016)


Já estou bem atrasado para uma postagem com esse conteúdo, mas mesmo assim ainda julgo que vale o registro. George A. Romero faleceu e ficamos órfãos do seu gênio, ainda que o gênero ao qual ele permanecerá para sempre atrelado, o filme de zumbis, não pare de expandir. Cada novo exemplar que chega ao mercado aproveita parte das regras criadas por Romero, ao mesmo tempo em que procura incrementar o gênero com novas variações.

Enquanto alguns buscam oxigenar o formato - Meu Namorado é um Zumbi (2013, Jonathan Levine), Zombieland (2009, Ruben Fleisher), etc., outros resultam em variações menos inspiradas - Guerra Mundial Z (2013, Marc Forster). Às vezes, o sopro de criatividade vem de onde menos se espera, como no recente Invasão Zumbi (2016), do sul coreano Sang-ho Yeon.

Nele, um grupo de pessoas em deslocamento entre duas cidades sofre um ataque zumbi, justamente quando o trem que os conduzia realiza uma parada em uma das estações intermediárias do seu itinerário. A cena que retrata esse episódio é grandiloquente, sem nunca perder de vista o envolvimento emocional do público com os seus protagonistas. Dai em diante o filme se converte numa longa escapada dos sobreviventes do iminente massacre dos zumbis. Aqui, ao contrário da convenção iniciada por Romero, os cadavéricos se locomovem com extrema agilidade, sendo contidos apenas pela escuridão, numa sacada do roteiro muito bem explorada pela sequência dos túneis.

O desfecho também assume uma escala épica, com zumbis impressionantemente se empilhando a fim de conter o avanço do trem, carregando apenas os poucos sobreviventes dessa jornada fúnebre (embora bastante divertida). A última cena converte literalmente a luz no fim do túnel em esperança, ainda que, paradoxalmente, as armas empregadas do outro lado sejam mais letais.