Esse é o primeiro hiato que acomete o
blog, diretamente relacionado a escassez de filmes. Minhas sessões diminuíram
sobremaneira em virtude dos meus 20 dias de descanso que já se foram. A fim de
deixar minha vida pessoal e profissional em ordem, tive de sacrificar a minha
principal fonte de lazer. Embora a fruição dos filmes ande em marcha lenta, a
memória digital do meu HD externo anda trabalhando em ritmo acelerado. Um amigo
me apresentou o www.filmescult.com.br, cujo arsenal de
obras clássicas disponíveis não encontra concorrente à altura na internet. A
curadoria é de primeira e a organização do espaço facilita todo o tipo de
pesquisa. Não dá nem pra reclamar. Filmes que pra mim seriam impensáveis
passaram a compor o meu horizonte de possibilidades.
Mesmo tendo visto os dois filmes que
pretendo fazer menção hoje já há algum tempo, ambos ainda permanecem frescos na
minha memória. O primeiro se trata de uma comédia recente que passou batido no
Brasil e o segundo é um clássico policial setentista minimalista. Ando bastante
negligente com o cinema nacional, mas pretendo fazer um apanhado das produções
dos últimos dois anos, esperançoso de que alguma coisa me chame a atenção a
ponto de dedicar alguma linhas nesse espaço abandonado.
Dormindo
com outras pessoas (Leslye Headland, 2015) - quando o Filipe Furtado relacionou a
produção na sua lista de melhores do final do ano retrasado, eu achei que fosse
pegadinha. Como a diretora responsável por Quatro
amigas e um casamento (2012), daria à volta por cima em tão pouco tempo?
Verdade seja dita: é uma das melhores comédias românticas produzidas nos
últimos tempos. Ela flerta o tempo todo com a vulgarização sexual, o que se
tornou recorrente na indústria cinematográfica norte americana, mas exercita
essa prática com uma sensibilidade que a distingue das demais. A cena do sexo
oral na garrafa é o melhor exemplar dessa afirmação. O filme leva um tempinho
pra engrenar, mas a espera recompensa os espectadores mais pacientes/exigentes.
Jason Sudeikis ganhou o meu respeito com a sua atuação nesse filme.
Os
amigos de Eddie Coyle (Peter Yates, 1973) - eu ainda me recordo quando o Sergio
Alpendre divulgava suas listas de 10 melhores de diretores e uma das vezes
calhou de ser Yates. Pena que ele abandonou essa prática. Elas eram
divertimento garantido. Quando ele fez a lista de Yates, foi como uma homenagem
ao diretor recém-falecido. Eu só conhecia dele o policial Bullitt (1967), que é uma das referências absolutas do gênero. Os amigos de Eddie Coyle não goza da
mesma reputação, embora seja um senhor exemplar do cinema minimalista dos anos
70. Parece até que eu conheço Boston só de assisti-lo. Bullitt faz a mesma coisa por São Francisco. O seu valor não vem
exatamente da trama, que desenvolve o clássico personagem que quer se
desvencilhar do crime organizado. Duas questões o diferenciam da média: 1) o
criminoso que quer se aposentar é nada menos que Robert Mitchum em
interpretação contida; 2) os coadjuvantes, adversários e algozes,
encontram-se no mesmo patamar de excelência de elaboração do protagonista, seja na roteirização dos seus papéis, seja nas interpretações dos seus atores.