Só Deus sabe o que faríamos quando entrássemos naquele prédio. Algumas pessoas, os hippies, diriam que iriam fazer o prédio levitar. Outras pessoas queriam vandalizar o prédio. Outros queriam distribuir textos antiguerra no prédio, conversar com as pessoas. Só a ideia de entrar na sede dos militares dos Estados Unidos... foi a primeira vez que protestos antiguerra confrontaram pessoal em serviço militar. Não os considerávamos inimigos. Nós os considerávamos vítimas de guerra. Mas começamos a ver o nosso próprio governo como inimigo.
BILL ZIMMERMANN
O fim dos anos 60 pareceu a confluência de vários riachos. Havia o próprio movimento antiguerra, o movimento de igualdade racial, do meio ambiente, do papel das mulheres... e os hinos daquela contracultura eram feitos pelo rock n´ roll mais incrível que você possa imaginar. Não sei como poderíamos existir hoje como país sem aquela experiência. Com todos os defeitos, altos e baixos, aquilo gerou os EUA que temos hoje, somos melhores por isso. Eu me senti assim no Vietnã. Eu apoiava todas essas coisas. Aquilo representava o que eu tentava defender.
GENERAL MERRIL McPEAK
Minha memória bélica é totalmente moldada
pela experiência cinematográfica. Tudo o que “aprendi” a respeito da Guerra do
Vietnã foi assistindo Platoon (Oliver
Stone, 1986), Apocalypse Now (Francis Ford Coppola, 1979), Nascido para Matar
(Stanley Kubrick, 1987), Nascido em 4 de Julho (Oliver Stone, 1989), O Franco
Atirador (Michael Cimino, 1978), Rambo: Programado para Matar (Ted Kotcheff,
1982), Rambo II: A Missão (George P. Cosmatos, 1985), etc. Outros filmes
como O Sobrevivente (Werner Herzog,
2006), Bom dia Vietnã (Barry Levinson, 1987), Pecados de Guerra (Brian de
Palma, 1989) e Southern Comfort
(Walter Hill, 1981) vieram depois. Mesmo que alguns destes houvessem sido
lançados junto com a primeira leva, o estrago já havia sido feito. Dos primeiros,
assisti quase todos próximos de seus lançamentos, no calor da hora, exceto
aqueles que foram lançados na década de 70.
Todos eles abordam um recorte do período da
guerra que se estendeu por pelo menos 15 anos. Alguns deles nos colocam no
front de guerra, outros nos bastidores; uns nos momentos que antecedem a
convocação, outros no período de retorno à pátria; uns exploram o treinamento,
outros o corpo a corpo; uns se voltam para os soldados, outros para as patentes
mais elevadas. Todo esse pequeno arsenal de produções provocam no espectador
reações de revolta, incerteza, injustiça, insegurança, loucura, insensatez,
medo, etc.
Nenhuma dessas produções me preparou para
o monumento cinematográfico que foi assistir às 18 horas de A Guerra do Vietnã. Todo o contexto
político que antecedeu a guerra, os presidentes envolvidos e seus dilemas, a
efervescência cultural dos anos 60, o movimento de contracultura, o movimento
dos direitos civis, o rock n´roll, as drogas, o papel da televisão, o embate
ideológico travado entre comunismo e capitalismo, a guerra fria..., está tudo
lá, absolutamente tudo. Embora já faça uns 4 meses que terminei o documentário,
o fantasma do seu conteúdo me atormenta até hoje. Passei a enxergar a
influência do confronto em esferas que antes me pareciam mais desconexas, mais distantes.
O legado é imenso e parece que foi devidamente documentado. Este foi certamente
o melhor filme que vi em 2018.