Daqui a pouco começa a festa do Oscar.
Embora já faça uns bons anos que não consigo assistir a todos os filmes
indicados anteriormente a noite da premiação, persisto posteriormente para
tentar preencher essa “lacuna”. Do ano passado ainda me faltam Me Chame pelo Seu Nome (Luca Guadagnino,
2017) e Trama Fantasma (Paul Thomas
Anderson, 2017).
Confesso que esse ano eu tive a
oportunidade de assistir a todos os indicados com antecedência, mas me faltou
apetite para abraçar todas as propostas apresentadas. O único que me chamou a
atenção e honestamente não sei como foi parar por lá foi o Infiltrado na Klan, de Spike Lee. Faz duas semanas que o vi no
cinema e digo que valeu a espera.
A história é tão bizarra que é difícil
encará-la a sério. Spike Lee sabia disso. Tanto que ele nunca abandona o tom de
deboche da proposta, como se o próprio ato de filmá-la fosse encarado como uma represália histórica regozijante, uma espécie de triunfo folclórico tardio. A recriação do episódio é a oportunidade de fazê-lo com a segurança
de se lambuzar sem se envolver com o perigo real da missão, assumida por
completo pelo personagem judeu de Adam Driver que se expõe de forma visceral.
Ciente dessa linha tênue de abordagem, da qual ele sempre foi muito crítico, e
sua própria filmografia é a prova cabal dessa postura, ele termina o filme com
as imagens devastadoras do episódio de Charlottesville em 2017, pra colocar uma
pá de cal no assunto e deixar bem claro que a questão está mais presente do que
nunca.
A
Mula (2018) é outro exemplar magnífico de Clint Eastwood que continua me
surpreendendo com a sua fluidez narrativa de dar inveja. Alguns dias antes da
minha sessão eu assisti a Golpe de
Misericórdia (1949), de Raoul Walsh, que é uma das fontes inesgotáveis de
inspiração do veterano diretor. Os heróis
esquecidos de Walsh tem a mesma vitalidade dos personagens de Clint
Eastwood e flertam com a mesma intensidade com a morte. Duarte Mata, do ótimo
site português À Pala de Walsh, escreveu o que eu gostaria sobre o filme: “de
uma maneira ou de outra, filmes anteriores de Eastwood são aqui reunidos numa
obra que acarreta toda a aura de um filme-testamento, e o tráfico de drogas tem
tanta importância em A Mula como o
boxe tinha em Menina de Ouro: quase
nenhuma, antes o de ser um mero pretexto para falar sobre dois temas pessoais
que são o que interessam verdadeiramente a Eastwood, a família e a redenção”.