A vida real está dificultando as minhas
passagens neste espaço, e desta vez, influenciando o exercício da minha
cinefilia. Embora eu não tenha suprimido por completo minhas sessões, elas
foram razoavelmente reduzidas. Mas esse tempo há de passar. A conclusão do meu
mestrado em breve deve desanuviar minha programação ociosa, que pretende ser
ocupada com sessões mais frequentes.
Por enquanto, algumas produções
acumuladas nesse período de escassez, mesmo que rarefeitas, causaram um impacto
duradouro.
Começa pelo Soldados da Morte (1978), de Karel Reisz, título traduzido para o
Brasil que consta no IMDB, cuja designação original oscila entre Dog Soldiers e Who´ll Stop the Rain. Esta última
é uma clara referência à famosa música do Creedence Clearwater Revival que
constitui a base sonora do filme. Embora o enredo sugira o tráfico de cocaína como
desdobramento verídico da Guerra do Vietnã, é o mal estar e a desesperança dos
envolvidos que realmente importa. As ações envolvendo essa prática censurável
servem de pano de fundo perfeito para descrever o abatimento generalizado que
cercava o ambiente civil norte americano. A transgressão é a única opção viável
de reinserção social – como nos clássicos de Raoul Walsh da Warner Bros. da
década de 1930. O lobo solitário vivido por Nick Nolte é o retrato fiel da
desilusão enfrentada pelos soldados que retornaram do front de guerra, desencantados
com o país que encontraram e sem perspectiva alguma de levar uma vida dita “normal”.
O Rambo de Stallone é mais taciturno,
reservado e o filme de Ted Kotcheff permanece o tempo inteiro prestes a
explodir – a perseguição a ele é mais espetacular e dura quase a metragem toda do
longa. Soldados da Morte até ensaia um
não-romance entre Nolte e a personagem de Tuesday Weld, numa espécie de evocação
das memórias de um tempo que não volta mais, coisa que O Franco Atirador (1978), de Michael Cimino, se presta a dedicar
uma porção mais prolongada do premiado filme. O final é absolutamente
fantástico, com o personagem de Nolte externando toda a perturbação que ele
passara o filme inteiro tentando evitar. O embate final se passa numa locação hippie abandonada que representa o fim
de uma era – o eco de um EUA que havia deixado a ingenuidade para trás. A
violência sempre esteve presente e os efeitos nefastos dela permanecem os
mesmos, só cambiaram as armas.