sábado, outubro 08, 2011

Trabalhar Cansa (Juliana Rojas e Marco Dutra, 2011)



A produção de longas metragens nacionais anda a todo vapor. O caderno Ilustrada da Folha de S.Paulo na edição da última terça feira, dia 04 de outubro, publicou em sua capa uma matéria extensa do cinema independente nacional que, mesmo em escala ínfima, conseguiu chegar às telas dos cinemas da capital paulista. São produções da Alumbramento (Estrada para Ythaca, Os Monstros), do Teia (Girimunho), da Filmes do Caixote (Trabalhar Cansa) e da Duas Mariola (A Fuga da Mulher Gorila, A Alegria). Pra minha surpresa (e bota surpresa nisso) Trabalhar Cansa (2011), de Juliana Rojas e Marco Dutra, estreou no cinema de Ribeirão Preto. E, curiosamente, não foi no Cauim, que eventualmente serve de espaço para essa produção periférica. Embora eu saiba que isso não represente muita coisa, só o fato de eu não precisar me deslocar até São Paulo ou aguardar a estréia do longa-metragem no Canal Brasil já serviu de consolo. Pena que, a julgar pelo público presente na sessão em que eu estava, a carreira do filme nas telas de Ribeirão Preto não deverá durar muito.

Eu gosto bastante desses filmes que se vendem como um determinado produto, ou gênero talvez, e acabam se mostrando bem mais complexos do que aparentam. Normalmente são filmes que atraem o público por determinadas características (naturalmente atrativas, por meio de clichês, por exemplo), e acabam fazendo uso delas para explorar outras esferas de interesse não circunscritas apenas ao apelo comercial que levou tal público a procurá-lo. Às vezes, o resultado cheira a enganação, fazendo jus à expressão “comer gato por lebre”; em outras, nos leva a reflexões que não teriam o mesmo impacto caso o tratamento dado fosse mais convencional – aqui, o gênero potencializa o efeito do filme, se mostrando como a opção mais adequada para fazer o filme “funcionar”.

Trabalhar Cansa se enquadra perfeitamente no segundo grupo: aproveita o gênero fantástico pra extrair alguma coisa (bastante relevante) a mais da fórmula. A exploração do gênero, nesse caso, evita que o filme soe demasiado panfletário, contribuindo para amenizar o “peso da mensagem”. Nem tudo é dito e/ou esclarecido, de forma que cabe ao público estabelecer as associações entre os elementos dispostos para conferir sentido ao que se vê. Nada é imposto ao espectador, tudo é sugerido.

O filme acaba fazendo uma poderosa reflexão a respeito das relações de trabalho no mundo moderno. Quem quer que veja o filme, se identificará com alguma ocorrência semelhante em sua própria vida. A comicidade surge do absurdo de determinadas situações a que os personagens se sujeitam, em especial o Otávio de Marat Descartes. A cena final me lembrou o grito desesperado de Peter Lorre na obra-prima de Fritz Lang, M, O Vampiro de Dusseldorf (1931). De alguma forma, enquanto eu assistia, minha referência era O Corte (2009), de Costa-Gavras – talvez pela temática e o humor (negro) associado à abordagem. Melhor referência fez a reportagem da Folha ao associá-lo ao universo de Joon-ho Bong (O Hospedeiro e Mother – A busca pela verdade). Mais justo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário