Steve Dallas: The next time you want information, don’t scratch for it like a dog, ask for it like a man!
Quando o assessor/relações-públicas
Sidney Falco (Tony Curtis) recebe a réplica acima logo no início de A Embriaguez do Sucesso, o espectador é
formalmente apresentado ao universo de ironia, cinismo e sarcasmo que se fará
presente pelos próximos 90 minutos de projeção. Não tarda muito para que o
contrapeso dessa figura - o colunista manipulador J.J. Hunsecker (Burt
Lancaster) - nos exponha seus métodos inescrupulosos de influência estabelecendo
uma dinâmica ímpar de dominação/subserviência entre ambos. O enredo do filme, derivado
do noir, serve apenas de pretexto
para que essa relação atípica de amor e ódio e de mútua dependência se desenrole
diante dos nossos olhos.
Sidney Falco: A press agent eats a columnist’s dirt and is expected to call it manna.
Na ocasião em que eu postei um
texto sobre o Anjo do Mal (1953), de
Samuel Fuller, eu já me revelara surpreso com a quantidade de quotes relevantes e/ou memoráveis que o
filme eternizou na lembrança dos cinéfilos. No caso de A Embriaguez do Sucesso a lista de quotes relacionados no site do IMDB (International Movie Data
Base), www.imdb.com, é três vezes maior do
que a de Anjo do Mal. Pudera: os
diálogos escritos pela dupla Clifford Odets e Ernest Lehman, baseados numa peça
deste último, são como navalhas afiadas de tão cortantes. Embora elas sejam
repulsivas e condenáveis em boa parte das vezes, é inegável o poder de sedução
que elas exercem sobre nós. Toda cena tem ao menos uma linha célebre
pronunciada por um dos dois personagens, quando não um diálogo inteiro.
J.J. Hunsecker: What’s this boy got that Susie likes?
Sidney Falco: Integrity – acute, like indigestion.
J.J. Hunsecker: What does that mean – integrity?
Sidney Falco: A pocket fulla firecrackers – looking for a match!
Sidney Falco: It’s a new wrinkle, to tell the truth... I never thought I’d make a killing on some guy’s “integrity”.
A resenha quinzenal de Roger Ebert - Great Movies, 21/10/97 - informa que à época do lançamento do filme nos EUA a figura de J.J. Hensecker foi
comparada a do famoso colunista social (gossip
columnist) Walter Winchell – coincidência ou não, ele também usava sua
coluna para atacar o homem que queria se casar com a sua filha, Walda. O diretor Martin
Scorsese, no fundamental A Personal
Journey with Martin Scorsese Through American Movies (1995), o compara ao
terrível senador McCarthy, cujo poder era todo sustentado por uma rede de
informantes e bajuladores. Suas táticas de intimidação faziam dele uma
instituição nacional, mas seu mundo impiedoso tremeluzia numa penumbra moral. “Hoje
este rapaz limpou os pés em cima de 60 milhões de homens e mulheres do maior
país do mundo; não foi a mim que ele criticou, mas a meus leitores”. O peso
dessa declaração dramática de Hensecker dá a dimensão da sua influência sobre a
opinião pública norte-americana.
Um crédito generoso pela fama do
filme deve ser concedido ao fotógrafo James Wong Howe e ao músico Elmer
Bernstein, cujas execuções do progressive
jazz em tom dramático crescente ficaram a cargo do quinteto de Chico
Hamilton. Os contrastes de luz captados especialmente nas tomadas noturnas
contribuem sobremaneira para o retrato glamouroso e sombrio que se faz da Nova
Iorque dos anos 1950. A cidade pulsa sob a luz dos holofotes e faróis, mas é das sombras que emergem os "heróis" dessa sórdida estória – a verdadeira escória. “I
love this dirty town”, pronuncia Hensecker ao caminhar pelas ruas da Big Apple.
Sidney Falco: If I’m gonna go out on a limb for you, you gotta know what’s involved!
J.J. Hunsecker: My right hand hasn’t seen my left hand in thirty years.