segunda-feira, agosto 06, 2012

Além da Estrada e O Céu Sobre os Ombros


Quando eu fiz a minha lista dos melhores nacionais do ano passado comentei que faltava ver alguns títulos (muito bem recomendados) que haviam sido selecionados por outros blogueiros e/ou jornalistas, dentre os quais estavam Além da Estrada (Charly Braun, 2010) e O Céu Sobre os Ombros (Sérgio Borges, 2011). Pelo esforço dos adoráveis e encantadores gêmeos André e Marcos de Castro, esses e alguns outros filmes chegaram a Ribeirão Preto para uma curta Mostra no recém-reformado Cinemark da cidade. Pra evitar as inconvenientes intervenções técnicas que as projeções do Cine Cult costumam nos sujeitar, os dois irmãos se prontificaram a permanecer durante toda a jornada dentro da sala. Ótima iniciativa que demonstra um respeito inusual pelo público. Felizmente a plateia estava cheia, o que é bastante animador, dada a ousadia da programação (ao menos para o interior paulista): O Homem que Não Dormia (Edgar Navarro, 2011), As Praias de Agnès (Agnès Varda, 2008), Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (Beto Brant e Renato Ciasca, 2011), etc.


Além da Estrada

Talvez o filme seja o antídoto mais apropriado para aqueles que não gostaram de Na Estrada (Walter Salles, 2012). Um pequeno belo road movie uruguaio-brasileiro, com um toque bastante pessoal (ao menos parece tratar-se de uma viagem provada pelo próprio diretor), sem o peso inerente da adaptação literária. Os personagens de ontem e os de hoje fogem essencialmente da mesma coisa – a vida burguesa -, contudo, adotam caminhos diferentes para lidar com essa “crise existencial”. A viagem em Além da Estrada não tem nada de lisérgica – a rigor tem, mas é tão tímida que pode ser desconsiderada. A essência do filme parece estar contida na resposta dada pelo violonista centenário ao ser questionado pelo protagonista (alter ego do diretor) a respeito da sua extraordinária memória: “tenho a memória conectada aos sentimentos, e tudo que se faz com sentimento jamais se esquece”.


O Céu Sobre os Ombros

Nas palavras certeiras do Fábio Andrade (Revista Cinética), “Pois o que é surpreendente no filme de Sérgio Borges é a maneira como a instalação no real é constantemente surpreendida por personagens que se desdobram incessantemente em cena (e, não à toa, são pessoas que mudaram seus próprios nomes), levando a encenação para lugares que antes não pareciam possíveis, entortando nossa percepção sempre que achamos que já os conhecemos. É isso que há de comum aos três protagonistas do filme: sua capacidade não exatamente de reinvenção para a câmera, mas de revelar a incapacidade do cinema de captá-los em toda sua multiplicidade, de tipificá-los para um roteiro. A busca no real se justifica justamente nessa extrapolação da vida em relação ao cinema: um travesti se revela um estudioso sobre sua própria prostituição; um monge Hare Krishna que é skatista, pichador de muro e devoto do Atlético Mineiro; uma figura pictórica de um homem que anda pela casa vestindo apenas um par de meias cor-de-rosa se revela um escritor e pai de família; etc”.

Certamente ambos estariam na minha lista do ano passado caso eu os tivesse visto antes.

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