Quando eu fiz a minha lista dos
melhores nacionais do ano passado comentei que faltava ver alguns títulos (muito
bem recomendados) que haviam sido selecionados por outros blogueiros e/ou
jornalistas, dentre os quais estavam Além
da Estrada (Charly Braun, 2010) e O
Céu Sobre os Ombros (Sérgio Borges, 2011). Pelo esforço dos adoráveis e encantadores
gêmeos André e Marcos de Castro, esses e alguns outros filmes chegaram a
Ribeirão Preto para uma curta Mostra no recém-reformado Cinemark da cidade. Pra
evitar as inconvenientes intervenções técnicas que as projeções do Cine Cult
costumam nos sujeitar, os dois irmãos se prontificaram a permanecer durante
toda a jornada dentro da sala. Ótima iniciativa que demonstra um respeito
inusual pelo público. Felizmente a plateia estava cheia, o que é bastante
animador, dada a ousadia da programação (ao menos para o interior paulista): O Homem que Não Dormia (Edgar Navarro, 2011),
As Praias de Agnès (Agnès Varda, 2008),
Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (Beto Brant e Renato
Ciasca, 2011), etc.
Além da Estrada
Talvez o filme seja o antídoto mais
apropriado para aqueles que não gostaram de Na
Estrada (Walter Salles, 2012). Um pequeno belo road movie uruguaio-brasileiro, com um toque bastante pessoal (ao
menos parece tratar-se de uma viagem provada pelo próprio diretor), sem o peso
inerente da adaptação literária. Os personagens de ontem e os de hoje fogem
essencialmente da mesma coisa – a vida burguesa -, contudo, adotam caminhos
diferentes para lidar com essa “crise existencial”. A viagem em Além da Estrada não tem nada de lisérgica
– a rigor tem, mas é tão tímida que pode ser desconsiderada. A essência do
filme parece estar contida na resposta dada pelo violonista centenário ao ser
questionado pelo protagonista (alter ego do diretor) a respeito da sua
extraordinária memória: “tenho a memória conectada aos sentimentos, e tudo que
se faz com sentimento jamais se esquece”.
O Céu Sobre os Ombros
Nas palavras certeiras do Fábio Andrade
(Revista Cinética), “Pois o que é surpreendente no filme de Sérgio Borges é a
maneira como a instalação no real é constantemente surpreendida por personagens
que se desdobram incessantemente em cena (e, não à toa, são pessoas que mudaram
seus próprios nomes), levando a encenação para lugares que antes não pareciam
possíveis, entortando nossa percepção sempre que achamos que já os conhecemos.
É isso que há de comum aos três protagonistas do filme: sua capacidade não
exatamente de reinvenção para a câmera, mas de revelar a incapacidade do cinema
de captá-los em toda sua multiplicidade, de tipificá-los para um roteiro. A
busca no real se justifica justamente nessa extrapolação da vida em relação ao
cinema: um travesti se revela um estudioso sobre sua própria prostituição; um
monge Hare Krishna que é skatista, pichador de muro e devoto do Atlético
Mineiro; uma figura pictórica de um homem que anda pela casa vestindo apenas um
par de meias cor-de-rosa se revela um escritor e pai de família; etc”.
Certamente ambos estariam na
minha lista do ano passado caso eu os tivesse visto antes.
Vou vê-los. Grato pela dica.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Vai com fé Nahud!
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