Para mim, é essencial me servir
sempre de elementos ligados aos personagens ou aos lugares, e sinto que
negligencio alguma coisa quando não os utilizo.
Alfred
Hitchcock
O Inácio Araújo resumiu bem o Reinado de Terror em seu pequeno espaço
diário na Ilustrada da Folha de S.Paulo que faz a cobertura da programação televisiva: “eis um
filme arrancado ao nada, ou ao quase nada”. Não fosse pelo duelo do sueco
(Sterling Hayden) - empunhando um arpão de baleia - com o pistoleiro de plantão
(Nedrick Young) esse western impressionista de Joseph H. Lewis não seria assim tão
lembrado. Lewis levou a ferro e fogo o comentário de Alfred Hitchcock que abre
o post, cujo registro só veio anos
depois na famosa entrevista concedida a François Truffaut, e serviu seu
personagem, mesmo totalmente fora do contexto do oeste americano, da única arma
que fizera uso enquanto velejava pelo mundo à caça de baleias: um arpão. Afinal,
cabe a pergunta: que manejo faria um marinheiro de uma pistola de fogo? Por seu
caráter pra lá de inusitado e insólito, o duelo final tornou-se antológico – a
força das imagens é tão grande que Lewis também começa o filme com elas (sem
comprometer o impacto do desfecho).
Como de praxe na época, o cinema
norte americano vivia sob a sombra do Macarthismo, de forma que o assunto só
podia ser sugerido; não havia a menor possibilidade de abordá-lo de maneira
direta. É por essas e por outras que o medo dominava as tramas e sempre um
insurgente, na figura do mocinho, incumbia-se de quebrar o silêncio imperioso. Roteiristas
e diretores encontraram no gênero western um terreno fértil para que essa “paranoia”
fosse abordada de forma subliminar. O próprio ator Nedrick Young, bem como o
roteirista Ben Perry (pseudônimo de Dalton Trumbo), tiveram seus nomes
estampados na famosa lista negra. A presença da delação e do clima de
intimidação na narrativa é decorrente da experiência negativa associada ao
período, reforçada, sobretudo, por aqueles que sofreram perseguição. Enquanto
acreditava-se que a ameaça vinha de fora – no caso, o Comunismo Soviético -,
quem pagava o preço eram os próprios cidadãos norte-americanos. Essa “aversão
estrangeira” está bem representada no filme pelas figuras do sueco e do
rancheiro mexicano (Victor Millan) – os únicos de fato a sofrerem represália.
O filme passou na última segunda
feira no Telecine Cult e passou a integrar a grade de programação do canal. Pra
minha surpresa, a exibição foi no formato original (1.85:1). As próximas duas
segundas feiras prometem: Jardim do
Pecado (1954), de Henry Hathaway, no
dia 06 e Convite a um Pistoleiro (1964),
de Richard Wilson, no dia 13. Ainda não os vi, mas certamente irei conferi-los.
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