sexta-feira, dezembro 20, 2013

Azul é a Cor Mais Quente (Abdellatif Kechiche, 2013)


A desconfiança é o meio mais apropriado para encarar a polêmica que cercou a exibição de Azul é a Cor Mais Quente em Cannes, que desde então vem acompanhando o filme em todas as praças em que ele estreia. Embora ela lhe proporcione uma exposição desmesurada, servindo como uma campanha de marketing (até certo ponto) involuntária, ela encobre, a ponto de cegar, a beleza que envolve o tratamento da questão – essencialmente, uma intensa relação amorosa entre dois seres-humanos. As cenas de sexo entre as duas atrizes, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux, em especial a primeira, mais longa, são de fato muito bem escaneadas (daí que alguns espectadores se dispuseram a manifestar a sua indignação contra a causa – o homossexualismo). Mas também é fato que o diretor Abdellatif Kechiche desenvolve a sua Adèle (Adèle Exarchopoulos) ancorada, quase em absoluto, no desejo carnal, de forma que o apetite sexual imoderado dela por Emma (Léa Seydoux) parece ser a única força motriz capaz de propulsionar o leme da sua vida. Não é exagero afirmar que todo o restante na vida dela é significativamente mal resolvido, apesar de que a adolescência se encarrega de absorver boa parte da culpa por essa (maldita) condição. A adolescência, período da descoberta por excelência, funciona como uma espécie de álibi para Kechiche, que se esquiva da necessidade de explicar o inexplicável.

Como bem pontuou o Filipe Furtado em breve comentário no seu blog, o esquematismo da segunda parte, em que pesa a tentativa de se estabelecer a influência dos pais e do meio social (as cenas dos jantares se prestam a esse fim), dilui um pouco da força que o corpo de Adèle se esforçou para imprimir na primeira parte, quando fora extenuantemente explorado por Kechiche nos (perversos) closes do seu rosto e da sua boca. Aqui ele é acusado de voyeurismo, mas fosse o relacionamento explorado heterossexual, diriam que a sua câmera estava apaixonada pela protagonista. Afinal, quem não ficou?

3 comentários:

  1. A menina comendo macarronada com a boca aberta, com molho escorrendo e catarro no nariz também... Achei um pouco tosco, pra ser sincero, hehe.

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  2. Falando sério, não gostei do filme, mas tem um texto muito bom sobre ele:

    http://cinedrio.blogspot.pt/2013/12/la-vie-dadele-chapitre-1-e-2-2013-de.html

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    1. Eu gostei do filme Alexandre, talvez não a ponto de relacioná-lo numa lista de melhores do ano, mas considero-o um honesto rito de passagem. Ele se sustenta muito bem nas interpretações. Valeu pelo link, totalmente fundamentado nas cenas de refeições. Talvez essas passagens configurem a contribuição de Kechiche sobre o material da graphic novel que lhe serviu de ponto de partida. Valeu.

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