Eu acho que consigo imaginar o entusiasmo
do Carlão Reichenbach ao assistir O
Quimono Escarlate pela primeira vez. Ao menos, de todas as referências
possíveis e prováveis que o filme pode despertar (Godard seria muito
influenciado por ele), Carlão foi a mais premente. A maneira aparentemente
despretensiosa com que o thriller vai aos poucos se tornando um libelo poderoso
contra a intolerância e o racismo, me trouxe à tona as mesmas qualidades que
distinguem o cinema de Carlão. Posso dizer que encontrei a inspiração para a
cena sublime de Alma Corsária (1993) em
que o negro subitamente começa a tocar piano, desarmando por completo o
espectador num rompante de epifania. No ambiente masculinizado do thriller
policial, a sensibilidade do diretor Samuel Fuller encontra espaço para se
manifestar plenamente.
A cena em que James Shigeta e Victoria
Shaw "se declaram" ecoa em vários dos filmes de Carlão, um verdadeiro
manifesto de liberdade, esperança e leveza em meio à um ambiente repleto de
hostilidade. Logo me veem a mente A Ilha
dos Prazeres Proibidos (1979), Anjos do Arrabalde (1987), o já mencionado Alma Corsária (1993) e Bens Confiscados (2004).
Em todos eles, o amor atua como a única forma de redenção possível. Um
exercício em forma de tolerância.