sexta-feira, julho 10, 2015

Entardecer Sangrento (Budd Boetticher, 1957)


O Chico do My Two Thousand Movies me deu a rara oportunidade que eu já buscava há muito tempo de poder fechar os cinco faroestes que me faltavam do ciclo Ranown, cujo total de sete produções foram dirigidas por Budd Boetticher e estreladas por Randolph Scott, e produzidas pelo próprio Randolph além de Harry Joe Brown (daí a abreviação Ranown). Eu já havia visto O Resgate do Bandoleiro (1957) e Cavalgada Trágica (1960), o primeiro em boas condições no TNT e o segundo numa versão porqueira em DVD que só não me fez desistir da ideia devido à dificuldade que eu enfrentaria em encontrá-lo posteriormente. Ambos são uma aula de economia narrativa, com enxutos 80 minutos de duração (na verdade, alguns minutos a menos), excepcionalmente bem aproveitados.

Entardecer Sangrento é mais um capítulo informal dessa "série" de filmes que explorou um herói que não era tão herói assim, bem como um vilão que não era tão vilão assim. A ambiguidade de caráter dos personagens retratados foi levada às últimas consequências, numa tentativa bem sucedida de explorar os dilemas morais de um caubói, longe do modelo de perfeição de conduta que os roteiros costumam adotar no qual o protagonista (supostamente o herói) nunca erra.

Neste exemplar, Bart Allison (Randolph Scott) é praticamente um coadjuvante, não exatamente pelo tempo despendido em cena mas pelo papel de vetor que ele desempenha ao despertar os cidadãos de uma cidade inteira à enfrentar os maus tratos de Tate Kimbrough (John Carroll), cuja má influência chegou inclusive ao xerife, a ponto de tornar-se seu capanga particular. Bart Allison é movido a enfrentá-lo no dia do seu casamento por uma questão pessoal, mas sua insistência aflora pouco a pouco nos cidadãos de Sundown a coragem para pôr abaixo anos de dominação involuntária.

A cena em que o barbeiro da cidade desmascara o vício alcóolico do padre, seguida do discurso de "Doc" John Storrow (John Archer) a respeito da hipocrisia cristalizada nos cidadãos que escondem hábitos questionáveis mas aceitam cabisbaixos a liderança de Tate Kimbrough, é o ponto de virada na narrativa. Bart Allison por fim torna-se o modelo de conduta a ser adotado por eles, mesmo quando suas atitudes reservam motivações pouco enobrecedoras. O orgulho e a teimosia cobram um preço caro, arcado exclusivamente pelo “herói despedaçado”.

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