Eu acho que encontrei o filme que foi capaz de me fazer
enxergar o talento de Charles Bronson. Os anos em que a programação televisiva
insistia nas sessões de Desejo de Matar
(SuperCines e afins), fizeram-me criar um preconceito infundado em relação ao
ator. O IMDB lista 167 produções em que ele atuou, dos quais vi algumas poucas,
embora não me recorde de sua presença na maioria delas - verdade que ele atua
como coadjuvante em todas elas.
O filme de estréia de Walter Hill opera muito próximo de um
Jean Pierre Melville, com algumas tomadas quase extraídas de O Samurai (1967). Além do aspecto
estético, o comportamento lacônico dos protagonistas contribui para a aproximação
comparativa. A estrutura narrativa é a mais simples possível, podendo servir de
referência para os livros que se prestam a ensinar a elaboração de roteiros. O
protagonista, lutador de rua do título em português (Charles Bronson), exibe
suas habilidades marciais no início (na apresentação do personagem), no meio do
filme (quando o triunfo da sua arte equivale a sua invencibilidade) e na última
cena (quando a humildade se sobrepõe ao orgulho).
O arco narrativo esboçado pelo roteiro serve ao protagonista
tão bem como ao coadjuvante (James Coburn). Na verdade, é o personagem de James
Coburn que estabelece o conflito ao qual todo o eixo de sustentação moral do
filme será julgado. Só ao termino da última luta é que as motivações de todos
os personagens serão devidamente esclarecidas. Nessa manipulação dos ânimos dos
envolvidos, da qual o espectador participa passivamente, Walter Hill entrega
exatamente o que prometeu: um espetáculo artístico de alto nível, proporcionado
pela rivalidade ficcional de seus personagens. O vício do jogo, que alimenta o
desejo de Speed (James Coburn) e Gandil (Michael McGuire), é a razão de ser do
filme, cujo efeito extasiante atinge em cheio o espectador.