Quando um homem, mesmo com as melhores intenções, rompe as leis morais que nos regulam, não precisamos puni-los com as leis humanas. Descobrirá que a punição da Corte é o menor dos castigos.
Juiz (John Maxwell), em O Bígamo
Duas semanas sem as crianças em casa me
permitiu fazer uma breve visita à locadora, deixando-a com quatro títulos na
mão: Suplicio de uma Alma (Fritz Lang,
1956), Dois Destinos (Valerio Zurlini, 1962), Foi Deus Quem Mandou (Larry
Cohen, 1976) e O Bígamo (Ida Lupino,
1953).
Saí de casa com a intenção de voltar com
o único título faltante de Zurlini e adicionei os outros três escolhidos a
esmo. Pode até soar estranho para alguns, mas o filme que mais me impressionou
dessa leva foi O Bígamo, da Lupino.
Ela parte de uma premissa relativamente
simples pra atingir um resultado absolutamente surpreendente. Um casal que
busca a adoção deixa o homem totalmente preocupado quando a agência escolhida
para tal resolve fazer uma investigação na vida dos pretendentes, trazendo à
tona seu outro relacionamento que já conta com a existência de um filho recém-nascido.
O roteiro trabalha com um longo flash back que esmiúça as razões que o
levaram a adotar essa vida dupla, afastando (por incrível que pareça) qualquer
juízo de valor direcionado ao personagem. À medida que o filme vai se
encaminhando para o seu desfecho (ele já é curto, apenas 80 minutos), a
expectativa vai aumentando pra saber como um filme "highly regarded" como este será capaz de fazer jus à sua fama
sem fazer qualquer concessão que seja.
Ida Lupino trabalha seus personagens com
uma sensibilidade ímpar, no limite da corda bamba, flertando o tempo todo com o
abismo da sua proposta, ao se mostrar inclinada a compreender as motivações de
um adúltero. Sua direção liberta o filme de qualquer rotulação ideológica. O
final é antológico, deixando a bola quicar para que o espectador faça suas
próprias reflexões.
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