sábado, maio 21, 2016

O Bígamo (Ida Lupino, 1953)



Quando um homem, mesmo com as melhores intenções, rompe as leis morais que nos regulam, não precisamos puni-los com as leis humanas. Descobrirá que a punição da Corte é o menor dos castigos.
Juiz (John Maxwell), em O Bígamo 

Duas semanas sem as crianças em casa me permitiu fazer uma breve visita à locadora, deixando-a com quatro títulos na mão: Suplicio de uma Alma (Fritz Lang, 1956), Dois Destinos (Valerio Zurlini, 1962), Foi Deus Quem Mandou (Larry Cohen, 1976) e O Bígamo (Ida Lupino, 1953).

Saí de casa com a intenção de voltar com o único título faltante de Zurlini e adicionei os outros três escolhidos a esmo. Pode até soar estranho para alguns, mas o filme que mais me impressionou dessa leva foi O Bígamo, da Lupino.

Ela parte de uma premissa relativamente simples pra atingir um resultado absolutamente surpreendente. Um casal que busca a adoção deixa o homem totalmente preocupado quando a agência escolhida para tal resolve fazer uma investigação na vida dos pretendentes, trazendo à tona seu outro relacionamento que já conta com a existência de um filho recém-nascido.

O roteiro trabalha com um longo flash back que esmiúça as razões que o levaram a adotar essa vida dupla, afastando (por incrível que pareça) qualquer juízo de valor direcionado ao personagem. À medida que o filme vai se encaminhando para o seu desfecho (ele já é curto, apenas 80 minutos), a expectativa vai aumentando pra saber como um filme "highly regarded" como este será capaz de fazer jus à sua fama sem fazer qualquer concessão que seja.

Ida Lupino trabalha seus personagens com uma sensibilidade ímpar, no limite da corda bamba, flertando o tempo todo com o abismo da sua proposta, ao se mostrar inclinada a compreender as motivações de um adúltero. Sua direção liberta o filme de qualquer rotulação ideológica. O final é antológico, deixando a bola quicar para que o espectador faça suas próprias reflexões.

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