Deixe-me explicar algumas coisas. Em primeiro lugar, o tempo é curto. Para uma doninha, o tempo é uma doninha. Para um herói, o tempo é heroico. Para a prostituta, o tempo é só mais um programa. Se você for amável, seu tempo será amável. Se você estiver com pressa, seu tempo vai voar. O tempo é um servo se você for o mestre dele. O tempo é um deus, se você for o cão dele. Somos criadores, vítimas e assassinos do tempo. O tempo é atemporal.
Emit Flesti (William
Dafoe)
Faz muito tempo que eu vi Asas do Desejo (1987), do mesmo Wenders,
que precede Tão Longe, Tão Perto. Se Asas do
Desejo não tivesse sido tão bem acolhido pelo público e pela crítica essa “continuação”
dificilmente teria acontecido. Eu vi Asas
no início da minha cinefilia e me recordo do impacto que a fotografia de
Henri Alekan me causou, com a opção de retratar o mundo dos anjos em preto e
branco e o mundo dos humanos em cores. Nem foi tanto a languidez da narrativa/edição
que me chamou a atenção, tampouco a história de redenção do anjo Damiel (Bruno
Ganz), ambos só vieram a me causar impacto agora, assistindo Tão Longe, Tão Perto. Vou ter que voltar
a Asas para comprovar a sua
superioridade sobre Tão Longe, Tão Perto,
que desconfio se encontre no roteiro, menos detetivesco, hollywoodiano talvez,
mais abstrato, filosófico talvez. Confesso que meu maior entusiasmo repousa
sobre as imagens de Berlim captadas pelo fotógrafo Jürgen Jürges, estupendas, especialmente
as tomadas aéreas. Mesmo tendo visitado a cidade, essa perspectiva de
contemplação pelas lentes “dos anjos” não é privilégio dos turistas, só o filme
nos proporciona. É como se eu a tivesse visitado novamente, redescobrindo-a –
num momento chave da sua trajetória, poucos anos após a queda do Muro de
Berlim.
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