quinta-feira, julho 06, 2017

O Congresso Futurista (Ari Folman, 2013)




Inclassificável. Não vejo outra forma de referenciar o filme se não for assim. É um exercício e tanto tentar antecipar o desfecho de O Congresso Futurista. Nem precisa chegar a tanto, o próprio encadeamento das cenas, sobretudo a parte em animação, não respeita uma sequência lógica. A corporação capitalista vence a queda de braço com o indivíduo confiscando-lhe a sua própria liberdade. Esse é o ponto de partida da narrativa, quando a atriz/personagem Robin Wright, depois de uma sequência de fracassos cinematográficos, se vê forçada a vender a sua imagem para o estúdio Miramount (qualquer semelhança não é mera coincidência), cuja intenção é captar seus movimentos em digital para posteriormente utilizá-los conforme bem entender.

O descontentamento com o status quo (seja num âmbito mais amplo, ao lidar com a complexidade do regime capitalista, ou numa esfera mais estreita, centrado na indústria cinematográfica) desfila em cores vivas, criando um atrito/contraste interessante entre a superfície e o conteúdo/significado das imagens. Não exagero ao comparar a parte em animação com os traços característicos do Studio Ghibli - as sequências são realmente inspiradas, vívidas, carregadas de um "peso existencial". O material é uma livre adaptação do livro O Congresso Futurológico (1971), de Stanislaw Lem, autor de Solaris, adaptado para o cinema por Andrei Tarkovski. A fonte de inspiração para Matrix (1999), dos irmãos Wachowski, fica bem mais clara.

Algumas sequências são realmente memoráveis:

- o monólogo de Harvey Keitel, longo porém absolutamente enigmático, ao inspirar o choro de Robin Wright para a sua devida captação digital - lembrou o antológico final do esquecido Cortina de Fumaça (Wayne Wang, 1995);

- a encenação irônica do célebre desfecho de Dr. Fantástico (Stanley Kubrick, 1964), com Robin Wright a "cavalgar" na bomba atômica grafada com a palavra "badass";

- o exato momento precedente da passagem do "live action" para a "animação", quando Robin Wright em carne e osso vê seu reflexo em animação no retrovisor do carro;

- a impagável caracterização de Tom Cruise.

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