Partamos do seguinte princípio: a
trajetória dos Irmãos Villas-Bôas é tão rica que não há projeto audiovisual capaz de abordar toda a dimensão das conquistas acumuladas em
mais de 50 anos de trabalho em prol da causa do índio. Qualquer ângulo de
abordagem adotado pelos interessados deve primar mais pelos sacrifícios - por
sacrifício entenda-se o volume de material em potencial que será descartado -
do que pelo que de fato será aproveitado. É um trabalho árduo, cheio de
armadilhas e tentações que tende a resultar menos satisfatório à medida que o
escopo da empreitada aumenta - e a equipe tenta dar conta de tudo - e o foco se
dispersa.
Cao Hamburguer foi certeiro ao
dimensionar bem seus personagens e concentrar seus esforços nas transformações (sobretudo
psicológicas) do trio central, dotando
cada um dos irmãos de características fortes e distinguíveis, conflitantes porém
complementares, de modo a extrair das diferentes personalidades o ímpeto
necessário para dar vida a um projeto tão romântico/utópico quanto
ambicioso/necessário: a criação do Parque Nacional do Xingu ou Parque Indígena
do Xingu.
A complexidade do projeto é
soberbamente captada por Cláudio (João Miguel, o mais idealista) na conversa
com seu irmão Orlando (Felipe Camargo, o mais pragmático) em um momento de
absoluta descrença sobre os reais efeitos da intervenção deles junto aos
índios, "Tem alguma coisa neles que morre para sempre assim que a gente
encosta". É certo que os Villas-Bôas também experimentaram instantes de
dúvida e de fraqueza, o que só faz aumentar a dimensão da conquista. A
inesquecível imagem que fecha o filme não teria o mesmo impacto caso os irmãos
fossem tratados como seres infalíveis. Já dizia a sarcástica expressão proferida
por Billy Wilder, "no good deed goes unpunished".
vou vê-lo rapidamente...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Nahud, o filme só cresce no meu conceito. Muitíssimo bom!
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