segunda-feira, abril 16, 2012

Xingu (Cao Hamburguer, 2012)



Partamos do seguinte princípio: a trajetória dos Irmãos Villas-Bôas é tão rica que não há projeto audiovisual capaz de abordar toda a dimensão das conquistas acumuladas em mais de 50 anos de trabalho em prol da causa do índio. Qualquer ângulo de abordagem adotado pelos interessados deve primar mais pelos sacrifícios - por sacrifício entenda-se o volume de material em potencial que será descartado - do que pelo que de fato será aproveitado. É um trabalho árduo, cheio de armadilhas e tentações que tende a resultar menos satisfatório à medida que o escopo da empreitada aumenta - e a equipe tenta dar conta de tudo - e o foco se dispersa.

Cao Hamburguer foi certeiro ao dimensionar bem seus personagens e concentrar seus esforços nas transformações (sobretudo psicológicas) do trio central, dotando cada um dos irmãos de características fortes e distinguíveis, conflitantes porém complementares, de modo a extrair das diferentes personalidades o ímpeto necessário para dar vida a um projeto tão romântico/utópico quanto ambicioso/necessário: a criação do Parque Nacional do Xingu ou Parque Indígena do Xingu.

A complexidade do projeto é soberbamente captada por Cláudio (João Miguel, o mais idealista) na conversa com seu irmão Orlando (Felipe Camargo, o mais pragmático) em um momento de absoluta descrença sobre os reais efeitos da intervenção deles junto aos índios, "Tem alguma coisa neles que morre para sempre assim que a gente encosta". É certo que os Villas-Bôas também experimentaram instantes de dúvida e de fraqueza, o que só faz aumentar a dimensão da conquista. A inesquecível imagem que fecha o filme não teria o mesmo impacto caso os irmãos fossem tratados como seres infalíveis. Já dizia a sarcástica expressão proferida por Billy Wilder, "no good deed goes unpunished".

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