Embora várias vezes tivesse sido chamado de “ditador” e “totalitário”
por quem trabalhou com ele, Preminger geralmente deixava que o público
formulasse as suas opiniões. As suas tomadas prolongadas em tela panorâmica (ou
no formato normal) abrangiam a todos, deixando que o espectador decidisse por
si; ele não coloria essas imagens com cortes, que criam imediatamente um ponto
de vista. (Otto dizia que, no seu entender, todo corte constitui uma
interrupção.) Em geral, Preminger apresenta todos os lados com igual paixão,
como bom advogado na defesa do seu cliente, seja culpado, seja inocente; como
bom ator – que Preminger também era -, estava sempre do lado da sua personagem.
Preminger acreditava fundamentalmente na inteligência do público, não
importando os equívocos que ele comete – tanto quanto acreditava no sistema de
julgamento por júri popular, não importando os seus muitos defeitos.
Peter Bogdanovich em Afinal, quem faz os filmes?
O filme de Preminger é todo
centrado na investigação conduzida pelo senado norte americano para aprovar ou
não o novo Secretário de Estado (Henry Fonda) indicado pelo presidente dos
Estados Unidos (Franchot Tone). Toda a ação se passa em Washington, com longas tomadas
dentro do próprio senado, onde se dá o embate entre as forças favoráveis à sua
nomeação e as que o rejeitam. Quando um senador de Utah (Charles Laughton)
consegue levantar fortes entraves para derrubar a indicação, parte da bancada
se mobiliza para descobrir um podre que o desmoralize.
Desse enredo aparentemente simples,
ainda que perfeitamente crível e factível, Preminger esmiúça com habilidade
rara o cotidiano da vida política norte-americana: sem rodeios nem romantismos
partidaristas, totalmente desprovido de ideologia. Seus personagens estão tão
bem construídos e dimensionados que às vezes até esquecemos que se trata de um
filme. A veracidade da situação é tão tangível que é o caso de se perguntar: são
os nossos políticos que estão bem retratados nos personagens ou são os
personagens que representam bem os nossos políticos? Qualquer resposta é aceitável
e merecedora de nossa incessante preocupação com essa questão.
A meu ver, Otto Preminger evita
uma facilidade recorrente adotada nos roteiros de filmes políticos (ou trillers políticos), ao abrir mão do
protagonista íntegro e idealista que vê suas convicções colocadas à prova à medida
que seu envolvimento com a causa que pretende combater aumenta. Esse “recurso” costuma
proporcionar uma identificação rápida do público com o personagem, porém
esconde, na maioria das vezes, uma intenção moralizadora. Mesmo quando bem
usado, o que é incomum, é difícil suprimir o sentimentalismo proveniente dessa
prática.
Em Tempestade sobre Washington todo mundo têm culpa no cartório (até
que se prove o contrário). Embora todos digam o tempo todo que estão a defender
os interesses do país (ou a representá-lo), ninguém faz mais do que defender os
seus próprios interesses. O que está em jogo é o poder, e como fazer para mantê-lo
ou ampliá-lo. É um exercício contínuo de influências, em que cabe manter a
aparência afável na superfície e os interesses escusos às escondidas. Mesmo
quem tem pouco a esconder, só faz despender energia das investidas mal
intencionadas. A parte curiosa do roteiro de Wendell Mayes, adaptado do livro
de Allen Drury, é o desfecho reservado aos personagens que lutam pela “causa
certa” (ou os “bem intencionados”), como o senador Brigham Anderson (Don
Murray), presidente da comissão, que considerava inaceitável o passado comunista do postulante ao cargo de Secretário de Estado (sobretudo pelo fato de ele
haver mentido sob juramento), sem saber que seu romance com um marinheiro enquanto servia o exército na guerra promoveria a sua exoneração do cargo (e lhe custaria a vida). Ele
não levou a sério o conselho do presidente dos EUA, seu colega de partido, quando
este lhe propôs que desconsiderasse esse flerte com o comunismo em seu passado,
“we have to make the best of our mistakes” (temos que tirar o melhor dos nossos
erros).
A cena do desfecho, totalmente ambientada no
senado, é um primor de realização. Embora o destino dos personagens seja selado sob duvidosas circunstâncias (muita coincidência em jogo), é tudo tão bem
encenado e conduzido por Preminger que logo esquecemos tratar-se de uma
obra de ficção. As coisas se acomodam no melhor estilo happy end hollywoodiano, cabendo a democracia americana os verdadeiros louros da
história. Otto Preminger se aprazia disso, “Para mim, é uma história
interessante, que mostra o funcionamento
do governo americano. O filme contém algumas críticas muito ásperas à forma de
governo dos Estados Unidos, e foi ótimo eu ter contado com a liberdade de fazer
isso. É notável que o governo permita que um filme desses seja realizado. Esse
filme provou para mim que, apesar de tudo o que se ouve, este é na verdade o
único país do mundo em que há liberdade de expressão. Nesse sentido, fazer Tempestade sobre Washington foi muito
importante para mim.”
Rodrigo Duarte, tudo bem? Me chamo Carla Marinho, sou do site www.cinemaclassico.com e gostaria de entrar em contato contigo. Caso vc tenha facebook, entre em contato comigo no https://www.facebook.com/carlaamarinho
ResponderExcluircaso nao tenha mande-me um email charchaplin@hotmail.com.
Eu gostaria de pedir autorização para publicar alguns textos teus, com os devidos créditos no site cinema classico e divulgar no facebook do mesmo. e para isso necessito de teu consentimento. Parabens pelo blog.
Carla, obrigado pela visita. Já enviei um email para você.
ExcluirPoderoso (e corajoso) drama político. O Preminger é um mestre.
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Pena que seus filmes não gozem do prestigio que merecem.
ExcluirCaríssimo, o blog O FALCÃO MALTÊS está aniversariando e entrando de férias. Obrigado pela parceria. Desejo um Natal harmonioso e um Ano Novo cheio de energia.
ResponderExcluirCumprimentos cinéfilos,
O Falcão Maltês