Felizmente, os filmes não vêm
gozando da mesma fortuna que os textos neste espaço: enquanto estes caminham aos
trancos e barrancos, aqueles andam a todo o vapor. A nova função de pai, com o
Gael beirando seus cinco meses, me forçou a sacrificar - ou diminuir ainda mais
- a já escassa freqüência das publicações deste blog. Como quem toma um remédio
em doses homeopáticas para tratar de uma doença persistente, já me habituei a aceitar
uma condição até então considerada impensável: assistir a um filme com
interrupções frequentes. A não ser que seja no cinema, uma sessão de cabo a
rabo em casa, sem pausas, tornou-se um objetivo quase inalcançável. Por mais
que eu me empenhe, a circunstância me forçou a abrir mão dessa exigência. Dessa
forma, tenho dado preferência para os filmes de duração mais curtos. Ou,
aproveitei a ocasião para sacar do armário o Decálogo (1988), de Krzysztof Kieslowski, e o Berlin Alexanderplatz (1980), de Rainer Werner Fassbinder, cujos
formatos permitem sessões intermitentes. Mas isso é assunto pra outro post.
O que me traz aqui novamente, em
breve registro, é a versão de Sam Raimi para a prequel de O Mágico de Oz
(Victor Fleming, 1939). Desde a
primeira vez que vi o trailer no cinema, ainda no ano passado, minha reação foi
mais de desconfiança do que entusiasmo. É verdade que os novos tempos sugerem
um momento oportuno para revisitar o clássico musical de 1939, vide o sucesso da
recente leva de filmes que se prestaram a “atualizar” os contos de fadas para
as novas platéias. Entretanto, da forma como o mercado anda pasteurizando tudo,
cabe a questão: o que levaria Sam Raimi a embarcar nessa empreitada? Pra minha
grata surpresa, o resultado foi bem além da minha expectativa para o material.
Na minha percepção trata-se de um
projeto de encomenda feito sob medida para Sam Raimi. Contém o clássico embate
entre o bem e o mal que permeia sua obra (repleto de bruxas e magias), o tom
meio debochado, com boas doses de humor, que afasta qualquer tentativa de se
levar o conteúdo muito a sério e um personagem meio sonso em torno do qual gira
toda a narrativa. Além, é claro, da vocação para o entretenimento. Não vi
ninguém que fizesse uma leitura do filme aproximando-o de A Invenção de Hugo Cabret (2011), de Martin Scorsese, o que só
enriquece a experiência da fruição. A abordagem de ambos, a meu ver, é
praticamente a mesma (o triunfo do ilusionista), a não ser pela homenagem
escancarada de Scorsese ao cinema, que Sam Raimi camufla como um artesão
aplicado, discretamente. O Mágico de Oz de Sam Raimi é uma versão mais dissimulada
e menos comportada do Georges Meliès de Martin Scorsese. Raimi leva ao pé da
letra a definição que o diretor King Vidor encontrou para expressar o seu
ofício, “O cinema é o mais grandioso meio de expressão já inventado. Mas é uma
ilusão mais poderosa que qualquer outra e por isso deveria estar nas mãos dos
mágicos e feiticeiros que são capazes de lhe dar vida”. Cada qual à sua maneira
valoriza a arte da representação, sem a qual o cinema não teria chegado aonde
chegou. Ao final de cada jornada, os protagonistas terão sido salvos por suas
habilidades ilusionistas, bem como os cineastas que os conceberam.
E quem diria, James Franco ficou
muito bem no papel de Oz!
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