quinta-feira, julho 25, 2013

Os Canhões de Navarone (J. Lee Thompson, 1961)


Recentemente, eu e mais dois amigos conseguimos pôr em prática um projeto que demorou um bocado de tempo pra sair do papel: uma vez por mês nos reunimos para ver um filme do acervo pessoal de cada um. Além do bate papo que antecede a sessão, onde as expectativas são colocadas à prova, a ocasião serve como pretexto para uma reunião familiar regrada a comes e bebes. Na última sexta-feira o título escolhido foi Os Canhões de Navarone. Confesso que eu não estava muito animado para assistir a um filme de guerra com duas horas e meia de duração que seguiria o protocolo batido das produções americanas do período ao explorar um episódio fictício de vitória das forças aliadas (com ênfase para a contribuição dos EUA) contra a investida bélica nazista. Eu esperava uma dose cavalar daquele patriotismo norte-americano infausto que propagou para o mundo inteiro uma versão heróica distorcida dos fatos num tempo em que as imagens gozavam de prestígio incontestável. Não fosse essa ocasião específica, o filme dificilmente encontraria um espaço na minha agenda de prioridades cinematográficas.

A bem dizer, eu teria perdido um ótimo filme que até então eu encarava com certo desdém. A produção está mais para um drama de guerra, focada na missão do grupo e na interação dos seus integrantes, do que no espetáculo da frente de batalha. O que não quer dizer que não haja ação suficiente. Alguns dos diálogos de Carl Foreman, adaptados do livro de Alistair MacLean, tocam questões de moral espinhosas absolutamente incomuns em obras similares. A discussão travada entre Mallory (Gregory Peck) e Corporal Miller (David Niven) pra decidir quem deve dar cabo de uma traidora é antológica.

Mallory: You really want your pound of flesh, don't you?
Corporal Miller: Yes, I do. You see, somehow I just couldn't get to sleep. 
Mallory: Well, if you're so anxious to kill her, go ahead! 
Corporal Miller: I'm not anxious to kill her, I'm not anxious to kill anyone. You see, I'm not a born soldier. I was trapped. You may find me facetious from time to time, but if I didn't make some rather bad jokes I'd go out of my mind. No, I prefer to leave the killing to someone like you, an officer and a gentleman, a leader of men.
Mallory: I have no time for this!
Corporal Miller: Now just a minute! If we're going to get this job done she has got to be killed! And we all know how keen you are about getting the job done! Now I can't speak for the others but I've never killed a woman, traitor or not, and I'm finicky! So why don't you do it? Let us off for once! Go on, be a pal, be a father to your men! Climb down off that cross of yours, close your eyes, think of England, and pull the trigger! What do you say, Sir? 
Mallory: If you think I wanted this, any of this, you're out of your mind, I was trapped like you, just like anyone who put on the uniform!
Corporal Miller: Of course you wanted it, you're an officer, aren't you? I never let them make me an officer! I don't want the responsibility!
Mallory: So you've had a free ride, all this time! Someone's got to take responsibility if the job's going to get done! You think that's easy?
Corporal Miller: [shouts] I don't know! I'm not even sure who really is responsible any more.

Mesmo tendo apreciado Os Doze Condenados (1967), de Robert Aldrich, é difícil admitir que Os Canhões de Navarone seja melhor, mas dou o braço a torcer. Este talvez seja o filme que originou os Commando team movies que vieram depois, todos voltados para o combate do mesmo inimigo: os nazistas. A rigor, a figura do vilão nessas produções poderia ser qualquer coisa, já que o nazismo contribui apenas com a sua representação, o que favorece o trabalho dos roteiristas ao tornar desnecessário qualquer tipo de apresentação ou aprofundamento. Não é por menos que esses dois filmes e Fugindo do Inferno (1963), de John Sturges, se vendem também como aventuras (de guerra), ainda que longe do modelo adotado posteriormente por Spielberg na série Indiana Jones.

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