sábado, janeiro 24, 2015

O que eu vi de melhor em 2014 - estrangeiros

O Ato de Matar (Joshua Oppenheimer, 2013) - de todos os filmes relacionados aqui, esse deve ser o menos comercial deles (trava uma briga feia com Cães Errantes). Que isso não sirva de desculpa para se evitar o que talvez seja um dos mais importantes documentários contemporâneos. Um verdadeiro soco no estômago. Busco socorro no blog do Filipe Furtado, “O resultado final é um filme sobre a violência da linguagem, linguagem da história, mas também linguagem do cinema, e as formas como ambas terminam cúmplices do discurso oficial (o extermínio de "comunistas") não importa o quão demente este seja”. Reitero o que escrevi no post anterior ao sugerir uma ótima sessão double bill com A Imagem que Falta (Rithy Pahn, 2013).

Sob a Pele (Jonathan Glazer, 2013) - quando a música e as imagens se complementam em um curioso efeito simbiótico. Um filme de atmosfera, que conta com um casting perfeito de Scarlett Johansson abdicando do status de estrela para encarnar um alien em processo de humanização numa Escócia aterrorizante. A perseguição na floresta, com a consequente captura da criatura e o "descolamento da pele" é antológica.

Inside Llewyn Davis (Joel e Ethan Coen, 2013) - eu andava meio impaciente com os irmãos Coen, sem experimentar em suas produções recentes o mesmo entusiasmo que as anteriores já me proporcionaram quando dos seus lançamentos. Este filme reacende a chama do meu interesse por eles, que andava meio apagada. Dos tempos em que a galeria de tipos criada pela dupla era digna de memória. De quebra, trouxe Oscar Isaac para o primeiro time de Hollywood.

Era Uma Vez em Nova York (James Gray, 2013) - melodrama de primeira linha pelas mãos de um dos mais talentosos diretores norte americanos em atividade. A última cena é simplesmente antológica, digna de qualquer lista séria que se preste a esse fim. Em apenas uma tomada ela sela o destino dos dois protagonistas que duelaram o filme todo na tentativa de conciliar o irreconciliável.

Amar, Beber e Cantar (Alain Resnais, 2014) - numa ida à capital eu peguei uma sessão dele às 0h (zero horas). Briguei um pouco com o sono e deixei a sala certo de que se tratava de um Resnais menor. Foi preciso outro filme do diretor, Melô (1985), pra me restaurar o brilho que eu havia perdido. Um assunto denso (de uma forma ou de outra todos os filmes de Resnais tratam da morte), tocado com a leveza notável de sempre. Fará muita falta!

O Grande Hotel Budapeste (Wes Anderson, 2014) - eu sempre fui um pouco desconfiado com o hype gerado em torno da carreira do diretor. Embora o seu talento seja inegável (bem como sua assinatura seja facilmente reconhecível), seus filmes comumente me despertavam mais curiosidade do que propriamente entusiasmo. Dessa vez eu realmente me diverti com a proposta, devidamente apropriada de um autor (Stefan Zweig) que dificilmente se associaria ao seu universo.

Cães Errantes (Tsai Ming-liang, 2013) - a exploração imagética do homem em meio ao caos urbano contemporâneo; do corpo e do espaço que o rodeia. Uma coleção vigorosa de situações bem encenadas e enquadradas, que dão conta de um homem no limite da sua sanidade mental, em decorrência da miséria material em que se encontra. Não é pra todos os gostos. O desfecho não alivia a barra para o espectador.

Nebraska (Alexander Payne, 2013) - o diretor sempre trabalhou o universo indie com um pezinho fincado no mainstream. Seus projetos nunca abdicaram de nomes de peso para se materializarem (provavelmente uma exigência dos produtores). Desta vez, o cineasta não só resgatou Bruce Dern do limbo, como convenceu seus financiadores a filmar em magnífico preto e branco. Resultado: seu melhor filme, num retrato amargurado do americano médio.

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