Como o post anterior começou a ficar
muito longo, achei melhor dividi-lo. I Am
Not a Serial Killer foi a outra boa surpresa que assisti recentemente,
constante na lista de melhores de 2016 do Filipe Furtado. O filme se encontra
listado na Netflix, mas dificilmente eu o teria selecionado sem uma indicação
previa. A lista de prioridades é tão ampla que não arrisco fazer uma escolha
sem critérios.
Outra produção que parece ter saído do
túnel do tempo dos anos 80 - pra quem gostou da série Stranger Things é um prato cheio. Já começa nos créditos de
abertura sobrepostos às imagens captadas com um ar bem retrô de produção
barata: uma fonte vermelho vivo contrastante com a monotonia monocromática de
uma cidade interiorana levando a vida entre o outono e o inverno rigorosos.
O personagem principal, interpretado por
Max Records, sustenta o interesse do público por toda a metragem do filme: um
adolescente órfão de pai, criado pela tia e pela mãe, cuja única fonte de renda
advém das autópsias dos defuntos da pequena cidade. O filho se recolhe em seu
mundo, manifestando algumas atitudes depressivas com tendências suicidas, o que
lhe garante um acompanhamento contínuo de um terapeuta especializado. A mãe se
esforça para se aproximar do jovem, até mesmo fazendo-o participar das sessões
de autópsia, mas não vê suas investidas avançarem rumo a um entendimento. O
jovem incorpora todo o clichê do adolescente rejeitado: sofre bullying na escola, afasta seu interesse
romântico mesmo quando tem a intenção de se aproximar, não tem amigos, etc.
Dito assim, parece que o filme será uma fossa sem fim, de forma que a depressão
abordada contagiará o público.
O que confere vida a essa cidade
interiorana e a esse personagem mal interpretado é a mais improvável das
circunstâncias: um serial killer que anda fazendo vítimas na comunidade,
amedrontando seus cidadãos, sem que a polícia consiga identificar a sua
identidade. O jovem, que além de depressivo é diagnosticado com um perfil de
serial killer, assume informalmente a investigação do caso com desdobramentos
para lá de inusitados.
Essa bizarra conexão entre o adolescente
e o serial killer mantém o interesse do público aceso até o último plano. À
medida que o adolescente vai se tornando mais enigmático perante o público, seu
círculo de convivência vai se estreitando, forçando-o cada vez mais ao
isolamento. Não tem como antecipar o seu desfecho, caloroso e chocante ao mesmo
tempo. Christopher Lloyd e Max Records nasceram para desempenhar esses papéis.
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