Quase dois meses sem passar por esse espaço. Felizmente não foi por
falta de filme; alternativas para escrever não me faltaram. Foi puramente
escassez de tempo mesmo.
É sempre bom voltar aos clássicos, pra não dizer necessário, já que nos
permite colocar as coisas em melhor perspectiva. O que dizer de um Lubitsch
então? Essa foi uma das vezes em que o "Lubitsch touch" ficou mais
óbvio pra mim. Honestamente, não esperava tanto de A Viúva Alegre, mas fiquei absolutamente encantado com a safadeza
do diretor. O tema poderia ser desenvolvido de forma mais pesada - a versão da
peça filmada por Eric Von Stroheim ao que tudo indica tem essa pegada - mas na
mão de Lubitsch quase levita de tão leve.
A cena em que o mulherengo Danilo (Maurice Chevalier) é flagrado pelo
Rei (George Barbier) em seus aposentos flertando com a Rainha (Una Merkel),
rende a mais espirituosa sequência de adultério que eu já vi. Tá certo que é um
mundo de faz de conta, em que vale tudo, mas mesmo assim ela permanece
irresistível. Sem contar que a construção da gag em que o Rei se dá conta da
sua condição de corno é puramente cinematográfica.
Existe um charme que perpassa toda a produção, muito pela contribuição
dos atores, sobretudo os personagens secundários, que dá um refinamento desejável
ao resultado final. Vale lembrar que o Código Hays passou a vigorar pouco
depois do seu lançamento, poupando a produção da censura temática a que
certamente ela estaria sujeita (adultério sendo uma delas).
No mesmo dia eu ainda vi A Mulher
de Verdade (1943, Preston Sturges), na expectativa de que as experiências
seriam semelhantes. Não me causou o mesmo entusiasmo, o que não significa que
eu não tenha gostado. O olhar para os personagens secundários é preciosíssimo,
no mesmo nível dos filmes de Lubitsch. Só não me pareceu tão inspirado.
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