O que me manteve longe deste espaço por
mais de 4 meses não foi a pandemia. Ultimamente, por mais que eu tivesse coisas
a acrescentar a respeito das produções a que assisti, me faltou inspiração e
determinação para escrever. Os últimos suspiros da dissertação de mestrado
drenaram as minhas energias intelectuais de forma que manter este espaço me
pareceu mais uma obrigação do que uma necessidade. Não foram poucas as vezes
que ensaiei retomar o ritmo. Além disso, o período contou com a nossa mudança
para a cidade de Nazaré Paulista, a fim de dar vazão a um projeto familiar,
competindo da mesma forma pelo foco da minha atenção. Agora que as coisas
começam a assentar, me sinto mais preparado para dar continuidade às escritas
cinematográficas.
Já que o período de exclusão vem se estendendo quase que indefinidamente, vou me programar para registrar parte das produções que me trouxeram alguma necessidade de reflexão. Todas de forma bem breve.
Nascido
em 4 de Julho (Oliver Stone, 1989) – o filme é bem melhor do que eu era
capaz de me lembrar. Tom Cruise começa representando a si mesmo, mas se
metamorfoseia visceralmente para encarar o petardo que caracterizou uma virada categórica
em sua carreira. Primeiramente seu personagem desce ao inferno para só então se
recuperar da ressaca moral em que se vê envolvido. A narrativa assume o seu
ponto de vista (o filme é adaptado das memórias do verdadeiro Ron Kovic) do
recrutamento ao regresso. Uma espécie de Os
Melhores Anos de Nossa Vida (1946, William Wyler), só que bem mais cru –
enquanto a II Guerra Mundial foi travada longe dos EUA, as famílias jantavam
com as cenas do Vietnã. Ainda não vi Amargo
Regresso (Hal Ashby, 1978) que deve lhe fazer uma bela companhia. A Guerra
do Vietnã é a cicatriz aberta norte-americana que ainda não parece esgotada,
vide a última investida de Spike Lee, Destacamento
Blood (2020), que encontra novos caminhos para ser explorada.
Calafrios
(David Cronenberg, 1975) – estou retornando ao início da carreira de
Cronenberg, que ainda não havia explorado. É impressionante como o viço da sua
marca já se fazia presente desde os primórdios. Um filme de terror B, com uma
trama fantástica (embora a pandemia tenha redefinido o significado de
absurdo), que funciona perfeitamente bem nas mãos de quem sabe o que está
fazendo. Ainda que eu o tenha assistido no início do período de reclusão, só
agora que consegui fazer a ponte com o Corrente
do Mal (2014), de David Robert Michell - havia visto mais John Carpenter
inicialmente, mas me parece ser mais Cronenberg, ou melhor, a temática de
Cronenberg com o estilo de Carpenter. Que filme sensacional! Não é para todos
os gostos, é verdade, mas é cinema em estado puro.
O
Estripador de Nova York (Lucio Fulci, 1982) – meu primeiro Fulci. As sessões de
filme de terror andam em alta aqui em casa – só de minha parte, já que minha
esposa não gosta. Só esse gênero mesmo para lidar melhor com a realidade. Parte do que
escrevi para Calafrios vale aqui
também. A estilização dos quadros contrasta com a pobreza da narrativa. Tudo
não passa de uma grande desculpa para enfileirar uma morte espetacular atrás da
outra. A voz de Pato Donald do assassino é tão estúpida, mas há que se
reconhecer que ela funciona bem nesse contexto. Quem se pauta pelo conteúdo,
deve sair frustrado, já quem se pauta pela forma, a experiência é absolutamente
recompensadora.
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