quinta-feira, agosto 13, 2020

Pandemia II

 

Toni Erdmann (Maren Ade, 2016) – numa postagem recente eu vi que o Sérgio Alpendre não gostou do filme – chega a classifica-lo como medíocre. Acho que depois que Hollywood elaborar o seu “remake” ele deve reavaliá-lo. São quase três horas de filme tentado explorar uma relação “interrompida” entre duas pessoas, no caso um pai e filha, com estratégias de aproximação da parte dele que beiram o grotesco. O abismo que separa os dois mundos só pode ser contornado pelo escracho. O filme é igualmente eficiente em retratar relações pessoais, o choque geracional, ou a selvageria capitalista contemporânea. Eu ficaria horas a fio assistindo aos dois talentosos atores, Sandra Hüller e Peter Simonischek, tentando ajustar as contas – a partir das circunstâncias pensadas e exploradas pela diretora/roteirista. Detalhe: eles quase não conversam.


O Direito da Mais Forte é a Liberdade (Rainer Werner Fassbinder, 1975) – mais um Fassbinder para a conta. Talvez esse seja o filme mais reconhecido do diretor, sobretudo por sua elogiadíssima participação como protagonista. O inferno do personagem equivale ao do diretor: financeiras ou criativas, suas fortunas atraíram um rol de parasitas que sugaram mais do que emprestaram energias para manter a sanidade/o discernimento da caminhada. Quanto mais o protagonista mergulha nas relações, guiado por suas emoções primárias, mais aguda é a sua queda. O espectador assiste passivo a essa derrocada, numa releitura da “crônica de uma morte anunciada”.


A Besta Deve Morrer (Claude Chabrol, 1969) – meu primeiro exemplar da fase áurea da carreira de Chabrol. Já estava tudo lá: o interior da França, a hipocrisia burguesa, a determinação/teimosia do personagem central, etc. O ator Jean Yanne, interpretando Paul Decourt, incarna o pior da espécie humana: expansivo, inconveniente, pouco confiável, o deplorável bem sucedido que usa do seu status para tirar proveito das pessoas. É notável como sua influência tóxica reverbera em seu entorno: tudo o que ele toca vira pedra. Quando o espectador passa a conhecê-lo (em pessoa), as intenções trucidantes do protagonista se tornam mais do que justificadas. Chabrol joga com essa expectativa criando um suspense a partir dela – as cenas são muito bem resolvidas -, culminando com uma resolução bem a sua maneira.

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