Toni
Erdmann (Maren Ade, 2016) – numa postagem recente eu vi que o Sérgio
Alpendre não gostou do filme – chega a classifica-lo como medíocre. Acho que
depois que Hollywood elaborar o seu “remake” ele deve reavaliá-lo. São quase
três horas de filme tentado explorar uma relação “interrompida” entre duas
pessoas, no caso um pai e filha, com estratégias de aproximação da parte dele
que beiram o grotesco. O abismo que separa os dois mundos só pode ser
contornado pelo escracho. O filme é igualmente eficiente em retratar relações
pessoais, o choque geracional, ou a selvageria capitalista contemporânea. Eu ficaria horas a fio assistindo aos
dois talentosos atores, Sandra Hüller e Peter Simonischek, tentando ajustar as
contas – a partir das circunstâncias pensadas e exploradas pela
diretora/roteirista. Detalhe: eles quase não conversam.
O
Direito da Mais Forte é a Liberdade (Rainer Werner Fassbinder, 1975) – mais um
Fassbinder para a conta. Talvez esse seja o filme mais reconhecido do diretor,
sobretudo por sua elogiadíssima participação como protagonista. O inferno do
personagem equivale ao do diretor: financeiras ou criativas, suas fortunas atraíram
um rol de parasitas que sugaram mais do que emprestaram energias para manter a sanidade/o
discernimento da caminhada. Quanto mais o protagonista mergulha nas relações, guiado
por suas emoções primárias, mais aguda é a sua queda. O espectador assiste
passivo a essa derrocada, numa releitura da “crônica de uma morte anunciada”.
A
Besta Deve Morrer (Claude Chabrol, 1969) – meu primeiro exemplar da fase áurea da
carreira de Chabrol. Já estava tudo lá: o interior da França, a hipocrisia
burguesa, a determinação/teimosia do personagem central, etc. O ator Jean
Yanne, interpretando Paul Decourt, incarna o pior da espécie humana: expansivo,
inconveniente, pouco confiável, o deplorável bem sucedido que usa do seu status
para tirar proveito das pessoas. É notável como sua influência tóxica reverbera
em seu entorno: tudo o que ele toca vira pedra. Quando o espectador passa a conhecê-lo
(em pessoa), as intenções trucidantes do protagonista se tornam mais do que
justificadas. Chabrol joga com essa expectativa criando um suspense a partir
dela – as cenas são muito bem resolvidas -, culminando com uma resolução bem a
sua maneira.
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