terça-feira, junho 28, 2016

A Próxima Vítima (João Batista de Andrade, 1983)


Só o Canal Brasil pra resgatar uma raridade dessas. A não ser por O Homem que Virou Suco (1980), é muito difícil encontrar algum filme da carreira de João Batista de Andrade na net (reconheço que não sou um bom pesquisador). Sempre que o canal anuncia qualquer filme dele na sua programação, vale a espera (e às vezes o esforço) para desfrutar da sua relevância. Ninguém passa batido num filme de João Batista. O cineasta sempre força o espectador a  encarar a realidade que nos cerca, adotando um estilo de abordagem direta (quase documental) com a mesma energia de uma investigação jornalística de qualidade.

O pano de fundo é a cobertura da eleição para o governo do estado de São Paulo no início dos anos 80, cujo jornalista encarregado para tal, interpretado por Antonio Fagundes (no que pode ser considerada a melhor interpretação da sua carreira),  acaba se envolvendo com uma prostituta (Mayara Magri) jurada de morte por um assassino em série. O que era pra ser um furo de reportagem da parte do repórter acaba por incriminar um suspeito inocente, convenientemente perseguido pelo delegado de polícia (Othon Bastos), adepto de práticas heterodoxas para intimidá-lo. Seus métodos de abordagem são herança do período duro da ditadura, quando os cidadãos tiveram suas liberdades individuais confiscadas, agravadas, neste caso, pela tonalidade escura da pele do suspeito, usado, descaradamente, como bode expiatório. Parece que o episódio baseia-se no famoso caso do Vampiro do Brás.

O roteiro explora uma subtrama que não chega a integrar-se organicamente ao todo, centrada na figura de um imigrante italiano que circula pelos becos da libertinagem paulistana, que só funciona devido a presença em cena do grande Gianfrancesco Guarnieri. Como de hábito, sua interpretação engrandece seu personagem.

Durante boa parte da projeção o filme me trouxe a lembrança de Armação Perigosa (1987, Jerry Schatzberg). Neste, um jornalista (Christopher Reeve) em busca de uma reportagem mais "relevante" também se deixa envolver com uma prostituta cuja influência lhe garante a matéria almejada, ao custo elevado de colocar suas vidas em risco. Quem rouba a cena é Morgan Freeman, já com idade avançada, no papel que lhe trouxe para o primeiro time de Hollywood. No contra senso do que se prega, o filme brasileiro é melhor.