domingo, janeiro 20, 2019

Malcom X (Spike Lee, 1992)



Eu achei que conhecia alguma coisa de Malcom X antes de assistir a cinebiografia de um dos maiores defensores do Nacionalismo Negro nos EUA. Anos de leituras superficiais a respeito do assunto, especialmente as que enfatizam as diferenças de abordagem com Martin Luther King no que diz respeito ao enfrentamento da segregação racial, foram o combustível que nutriu o meu parco conhecimento sobre ele. Em algum momento dessa trajetória, e não faz tanto tempo assim, essa superficialidade atingiu o ápice da banalidade quando me foi feita a aproximação do personagem em quadrinhos Charles Xavier com Martin Luther King e de Magneto com Malcom X, ambos do X-Men. Nada contra as criações artísticas, elas restringem-se apenas à representação de ideias.

O filme de Spike Lee, adaptado do livro A Autobiografia de Malcom X, de Alex Haley, serviu para me apresentar à complexa personalidade de Malcom, de cabo a rabo, desde a infância até o episódio do seu assassinato, e reafirmar a grandiosidade de um dos grandes diretores norte-americanos em atividade. Eu não esperava testemunhar um “cabo de guerra” entre negros na briga por poder. As duas imagens que ilustram esse post me surgiram enquanto eu assistia ao filme. Charles Foster Kane (Orson Welles) e Elijah Muhammad (Al Freeman Jr.) são dois líderes vaidosos que exercem enorme influência, recorrendo a atitudes reprováveis quando veem seus impérios ameaçados. O primeiro é um magnata das comunicações, dono das principais mídias existentes na época (década de 1940), manipulador astuto; o segundo é um líder religioso (Islã), pregador habilidoso, defensor dos negócios afro-americanos. Não seria improvável acreditar que o palanque de Elijah Mohammed foi construído tendo Cidadão Kane como modelo (a materialização de “a vida imita a arte”).

A trajetória de Malcom X se assemelha a de outros personagens ficcionais, dois dos quais explorados por Elia Kazan em Viva Zapata (1952) e Um Rosto na Multidão (1957), e um terceiro por David Lean em Lawrence da Arábia (1962). Todos se comportam como marionetes (puppets) num cenário político de interesses bem mais amplo/complexo do que eles são capazes de enxergar. Ao comunicar ideias revolucionárias, cuja evolução caminha progressivamente contrária ao establishment que os projetou, todos acabam pagando com as suas vidas. Quando essas figuras enfrentam essas “instituições”, tornando-se maiores do que elas, a luz de todos eles se apaga (diferentemente dos seus legados).