segunda-feira, agosto 29, 2011

Trabalho Interno (Charles Ferguson, 2010)


The financial industry is a service industry. It should serve others before it serves itself.
Christine Lagarde

Depois de 2010, qualquer lista de vilões do cinema que se preze deve, no mínimo, fazer uma menção honrosa ao documentário Trabalho Interno (2010), de Charles Ferguson. São duas horas de projeção alternando os relatos dos agentes que protagonizaram o processo que ficou conhecido como “crise dos subprimes” em 2008 e culminou com o colapso do sistema bancário dos Estados Unidos. No melhor estilo João Alves (falecido deputado do PPR, um dos “anões” do escândalo de roubo de recursos da União em 1993, alegou ser um ganhador contumaz de loterias ao depor na CPI do Orçamento – 221 prêmios), todos os entrevistados são primorosos em esquivar-se da parcela de culpa que lhes cabe ao serem questionados da responsabilidade que carregam pelo estado da saúde financeira que o mundo se encontra hoje – sobretudo os países do Primeiro Mundo.

Charles Ferguson traça um amplo panorama das engrenagens que movimentam esse mercado, esclarecendo de maneira bastante didática termos do economês que inflaram a mídia quando da quebra do banco Lehman Brothers em setembro de 2008 – derivatives, swaps, Credit Rating Agency (CRA), bonds, spreads, etc. A intenção é que o mais leigo dos espectadores se conscientize do estrago causado pela lei de desregulamentação promulgada pelo governo Ronald Reagan em 1982 - Lei Garn St.-German, na prática, “uma licença para apostar com o dinheiro do contribuinte, na melhor das hipóteses, ou simplesmente tomá-lo descaradamente, na pior delas”, conforme artigo de Paul Krugman no New York Times de 1 de julho de 2009. Uma das frases promocionais do documentário dá o tom do discurso: “If you’re not enraged by the end of the movie, you weren’t paying attention”. O grau de comprometimento das autoridades com o episódio é tamanho que nem os dirigentes das Instituições de Ensino Superior norte americanas (Harvard e Columbia) saem ilesos. Depois de terminado, fica a certeza de que “os peixes graúdos ainda dão as cartas do jogo”, além da farra estar literalmente institucionalizada.

O documentário desempenha, junto com Wall Street – Poder e Cobiça (1987) e Wall Street: O Dinheiro nunca Dorme (2010), ambos de Oliver Stone, o papel de um verdadeiro testemunho do efeito deletério capitalista. De quebra, adiciona mais um capítulo à desgastada relação do homem com o poder.

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