terça-feira, dezembro 13, 2011

Vagas Estrelas da Ursa (Luchino Visconti, 1965)


É uma pena que o DVD da Versátil de Vagas Estrelas da Ursa venha no formato 1.33:1 (standard) ao invés do original 1.66:1. Um filme de Visconti castrado pela distribuidora. Não consigo entender por que ainda se pratica esse desrespeito. O pior é que em dois momentos o formato assume a dimensão original pra dar conta dos elementos dispostos em cena..., pra logo depois voltar “ao normal”. Parece até a abertura de alguns filmes exibidos no Telecine Cult, cujos frames originais são preservados somente até o término dos créditos iniciais.

Foi o segundo filme de Visconti que vi sem que eu conseguisse me envolver por completo – o primeiro foi Belíssima (1950). O formato alterado contribuiu pra me manter afastado do filme, porém seria exagero responsabilizá-lo por isso. Um registro menos grandiloqüente do grande Visconti, praticamente uma encomenda para Claudia Cardinale. Uma rápida consulta ao destino da personagem Electra do Teatro Grego facilita a compreensão do enredo do filme, especialmente a função que o advogado e a mãe exercem na trama.


Eu gosto do jeito como Visconti explora Claudia Cardinale para provocar o espectador – a cena que culmina na foto acima é antológica: Cardinale desfila em frente ao seu marido com uma toalha que cobre apenas seu busto, deixando suas costas totalmente à vista (é a perdição!). A atriz desperta a atenção do espectador, não do marido - que age indiferentemente.


As duas cenas do encontro entre Cardinale e Sorel – a primeira no jardim, diante do monumento em homenagem ao falecido pai; a segunda na imensa caixa d’água (imagem acima), cujo acesso se dá por meio de uma escada em espiral – dão a dimensão da grandeza de Visconti: o espaço cênico é explorado à exaustão, as sombras e reflexos é que conferem os significados às imagens em questão. O roteiro de Visconti, em colaboração com a sua habitué Suso Cecchi D’Amico, sugere desde o início a relação incestuosa entre os irmãos – funciona muito bem devido a contribuição incomensurável dos atores: o repertório de olhares, gestos, expressões e movimentos legitima a proposta do filme. A partir do encontro na caixa d’água o filme mergulha em um poço de instabilidade: o acordo matrimonial selado entre os irmãos ruirá toda a frágil estrutura familiar que ainda resta. Nenhum dos personagens sairá ileso.

Um comentário:

  1. Um dos filmes mais poéticos e intrigantes de Visconti.
    Rodrigo, O Falcão Maltês entra de férias amanhã. Desejo um Feliz Natal e um ano de 2012 bastante proveitoso.

    Até Janeiro!

    O Falcão Maltês

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