Essa postagem tardou a acontecer
não foi à toa, essa é a terceira vez que me coloco a frente do computador pra
eleger os filmes nacionais de 2011 que mais me chamaram a atenção. A rigor,
esse post teria saído logo após os
eleitos estrangeiros. Eu tenho hesitado em escrevê-lo porque por mais que tenha
me esforçado para vê-los, muita coisa não estreou em Ribeirão Preto – pelo
menos o que eu chamaria de parte mais relevante da produção, priorizando a
qualidade, não necessariamente a bilheteria. Embora eu procure acompanhar o
ritmo de lançamentos do cinema nacional, neste último ano, a não ser para os
habitantes das capitais paulista e carioca, a missão se tornou praticamente
impossível. Basicamente, os filmes que figuraram na maioria das listas
elaboradas no final do ano só estrearam nas capitais.
Mesmo viajando periodicamente a
São Paulo, não consegui me atualizar a contento. Algumas das produções de menor
apelo comercial ou permaneceram por pouco tempo em cartaz, ou foram exibidas em
uma única sessão diária, ou não se encontravam no eixo de salas da Av. Paulista.
Nessa leva, acabei perdendo A Alegria
(Felipe Bragança e Marina Meliande, 2010), Além da Estrada (Charly Braun,
2010), O Céu Sobre os Ombros (Sérgio Borges, 2010), Diário de uma Busca (Flávia
Castro, 2010), A Fuga da Mulher Gorila (Felipe Bragança e Marina Meliande,
2009), Os Residentes (Tiago Mata Machado, 2010), Riscado (Gustavo Pizzi, 2010) e Transeunte (Eryk Rocha, 2010). Pelas
consultas às listas, quase todos foram lembrados e alguns chegaram inclusive a
dividir posições com as produções estrangeiras, como foi o caso de Riscado e Os Residentes. A safra (perdida) parece ter sido boa, pena que o
alcance dela foi limitado.
Se o SESC não se dispuser a promover
a exibição deles na grade de programação deste ano, resta o DVD (talvez alguns
desses títulos venham a ser lançados no formato digital, será?) ou o Canal
Brasil. Torçamos.
O Palhaço (Selton Mello, 2011) –
depois da experiência de Feliz Natal
(2009), cujo resultado ficou pesado e restringiu a aceitação do público, Selton
Mello conseguiu dosar melhor a proposta de seu cinema em O Palhaço, equilibrando humor e melancolia, sem o apelo fácil das
produções nacionais de cunho declaradamente comercial. Um road movie bem à brasileira.
Não se pode viver sem amor (Jorge
Durán, 2010) – um filme meio torto do Durán, que leva um tempo considerável
de projeção pra dizer ao que veio. Um olhar bem original das mazelas do Rio de
Janeiro, sem o conformismo das produções que transparecem uma “vontade de tratar
desse assunto”. Se o elemento fantástico do filme estivesse mais bem integrado
à narrativa, o resultado seria bem melhor reconhecido.
Bróder (Jeferson De, 2010)
– os favela movies cariocas tendem a
ser mais voltados para o espetáculo, já as versões paulistas do gênero tendem a
ser mais intimistas. O núcleo familiar do filme é muito forte (e talvez a parte
dele que melhor se fixa em nossa memória), bem ancorado na interpretação
memorável de Cássia Kiss – ela dispõe de pouco tempo de cena, mas deixa uma
impressão duradoura.
Estrada para Ythaca (Guto
Parente, Pedro Diógenes, Luiz e Ricardo Prestes, 2010) – a versão
contemporânea do jargão “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, mas sem a
pretensão dos colegas do Cinema Novo – os cinemanovistas almejavam “dar conta”
do Brasil. O quarteto de Fortaleza adota um escopo mais modesto, ainda assim
caminham a uma distância bastante confortável da irrelevância. Filhos do Festival
de Cinema de Tiradentes, salvos pela programação do Canal Brasil.
Ex-Isto (Cao Guimarães, 2010) –
um filme difícil que exige um bocado do espectador. Adaptado do livro Catatau de Paulo Leminski, ele explora
uma viagem imaginária do filósofo René Descartes ao Brasil. Nosso “tropicalismo”,
para o bem e para o mal, afeta os sentidos do pensador francês de maneira
irremediável. Cao Guimarães consegue dar forma a essa proposta com a ajuda
inestimável do talentoso João Miguel.
Trabalhar Cansa (Juliana Rojas e
Marco Dutra, 2011) – o Fernando Watanabe, da Revista Cinequanon,
escreveu o seguinte: “Estilisticamente, o
filme é Bresson + Hitchcok + Haneke + Jelinek + um monte de coisa que não
conheço. Ao mesmo tempo, tem uma cara própria, a cara de uma parcela da
juventude brasileira contemporânea que, no mundo, tal qual ele se encontra,
está e sempre estará fora de casa. Ainda assim, essa juventude (a nossa?) é
privilegiada (ou não?) por poder, alegremente (o filme tem um senso de humor),
paralisar o relógio que marcha e criar nesse lapso de tempo uma zona de
inconformismo criativo”.
As Canções (Eduardo Coutinho,
2011) – eu até concordo que esse filme do Coutinho, como pregou boa
parte da crítica, acabou por resultar menos inspirado do que os outros (ao
eleger “canções” como mote de seu filme, o “assunto” ficou mais restrito,
expondo à exaustão o seu método de trabalho), contudo o relato dos seus
entrevistados/personagens permanece tão forte quanto os dos demais.
Recife Frio (Kléber Mendonça
Filho, 2009) – se eu tivesse de escolher um dentre todos os filmes aqui
eleitos, seria esse. Um curta-metragem de 24 minutos que mistura perfeitamente
o drama social e a ficção científica e explora bem os limites da fronteira entre
a ficção e o documentário. Nossos costumes são postos à prova a partir da queda
de um meteoro em plena Praia de Boa Viagem – crenças, criatividade, exploração
alheia, crescimento desordenado e consumismo.