sexta-feira, janeiro 13, 2012

Adeus, Primeiro Amor (Mia Hansen-Love, 2011)



O Fábio Andrade, da Revista Cinética, acertou em cheio na sua resenha de Adeus, Primeiro Amor (2011), de Mia Hansen-LØve:

“Em dado momento, quando o trauma do primeiro rompimento começa a ser esgarçado pela passagem do tempo e uma primeira nasga de luz parece apontar no fim do túnel para Camille (Lola Créton), seu então professor Lorenz (Magne- Havard Brekke) faz um desenho na parede e define o mundo: “A água é controlada, mas ela é livre”. Há, nesta cena, mais do que um simples conselho arquitetônico; ela é, de fato, uma declaração de princípios da própria diretora que será repetida na canção “The Water”, de Johnny Flynn e Laura Marling, que fecha o filme: the water sustains me without even trying. Todo o exímio controle de Mia Hansen-LØve em seu terceiro filme vem justamente para criar a sensação de que ele é dirigido para parecer que dirige a si próprio, e o mesmo acontece com nossa fruição. O filme é controlado, mas é livre, inevitavelmente livre”.

O Fábio foi muito feliz na construção do seu texto (o trecho é só a introdução), extraindo o essencial do filme: o frescor, a leveza e uma sensibilidade raros de serem encontrados na produção atual. O amadurecimento paulatino, doloroso e sensível da jovem Camille encontra a representação perfeita na atriz Lola Créton. O enredo do filme abrange um período de aproximadamente dez anos e sua passagem é muito bem representada pelos cortes de cabelo da protagonista. Além disso, a sutileza da sua representação, que exige um esforço corporal da atriz (como usar o corpo para expressar a autoconfiança? ou ainda, como representar alguém que deixou de ser ingênua e passou a ser segura de si valendo-se apenas de gestos, postura e expressões faciais?), é um dos maiores trunfos do filme.

A escolha da profissão de Camille – arquiteta - é um bom exemplo do controle exercido pela diretora (acumulando também a função de roteirista do filme, ela é a responsável pela ocupação de sua protagonista – uma opção nada aleatória), não soa nem um pouco forçado, e de quebra, serve perfeitamente ao propósito do filme – causa essa sensação de liberdade e espontaneidade que fundamentou o texto do Fábio Andrade. Enquanto Sullivan (Sebastian Urzendowsky), seu primeiro namorado (o do título), projeta na viagem para a América do Sul todas as suas expectativas de crescimento e amadurecimento (descobertas, experiências de vida), a jovem Camille, ao passo que aguarda o retorno de Sullivan, encontra na arquitetura a melhor maneira de se relacionar com o mundo. Na perspectiva dela, por meio dessa profissão ela é capaz de criar o seu próprio espaço, modificá-lo ou alterá-lo ao seu bel prazer (que não deixa de ser uma das habilidades deste profissional). É o jeito que ela encontra pra se auto-afirmar, pra ser dona de si mesma.

Duas observações: 1. as músicas selecionadas para a trilha sonora são impecáveis e se fundem perfeitamente às imagens (em especial “Volver a los 17”, de Violeta Parra e “The Water”, de Johnny Flynn e Laura Marling) e 2. as comparações com Eric Rohmer são muito bem fundadas.

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