O Fábio Andrade, da Revista
Cinética, acertou em cheio na sua resenha de Adeus, Primeiro Amor (2011), de Mia Hansen-LØve:
“Em dado momento, quando o trauma do primeiro rompimento começa a ser
esgarçado pela passagem do tempo e uma primeira nasga de luz parece apontar no
fim do túnel para Camille (Lola Créton), seu então professor Lorenz (Magne-
Havard Brekke) faz um desenho na parede e define o mundo: “A água é controlada,
mas ela é livre”. Há, nesta cena, mais do que um simples conselho
arquitetônico; ela é, de fato, uma declaração de princípios da própria diretora
que será repetida na canção “The Water”, de Johnny Flynn e Laura Marling, que
fecha o filme: the water sustains me without even trying. Todo o exímio
controle de Mia Hansen-LØve em seu terceiro filme vem
justamente para criar a sensação de que ele é dirigido para parecer que dirige
a si próprio, e o mesmo acontece com nossa fruição. O filme é controlado, mas é
livre, inevitavelmente livre”.
O Fábio foi muito feliz na
construção do seu texto (o trecho é só a introdução), extraindo o essencial do
filme: o frescor, a leveza e uma sensibilidade raros de serem encontrados na
produção atual. O amadurecimento paulatino, doloroso e sensível da jovem
Camille encontra a representação perfeita na atriz Lola Créton. O enredo do
filme abrange um período de aproximadamente dez anos e sua passagem é muito bem
representada pelos cortes de cabelo da protagonista. Além disso, a sutileza da
sua representação, que exige um esforço corporal da atriz (como usar o corpo
para expressar a autoconfiança? ou ainda, como representar alguém que deixou de
ser ingênua e passou a ser segura de si valendo-se apenas de gestos, postura e
expressões faciais?), é um dos maiores trunfos do filme.
A escolha da profissão de Camille
– arquiteta - é um bom exemplo do controle exercido pela diretora (acumulando também
a função de roteirista do filme, ela é a responsável pela ocupação de sua
protagonista – uma opção nada aleatória), não soa nem um pouco forçado, e de
quebra, serve perfeitamente ao propósito do filme – causa essa sensação de
liberdade e espontaneidade que fundamentou o texto do Fábio Andrade. Enquanto Sullivan
(Sebastian Urzendowsky), seu primeiro namorado (o do título), projeta na viagem
para a América do Sul todas as suas expectativas de crescimento e amadurecimento
(descobertas, experiências de vida), a jovem Camille, ao passo que aguarda o
retorno de Sullivan, encontra na arquitetura a melhor maneira de se relacionar
com o mundo. Na perspectiva dela, por meio dessa profissão ela é capaz de criar
o seu próprio espaço, modificá-lo ou alterá-lo ao seu bel prazer (que não deixa
de ser uma das habilidades deste profissional). É o jeito que ela encontra pra se
auto-afirmar, pra ser dona de si mesma.
Duas observações: 1. as músicas
selecionadas para a trilha sonora são impecáveis e se fundem perfeitamente às
imagens (em especial “Volver a los 17”,
de Violeta Parra e “The Water”, de
Johnny Flynn e Laura Marling) e 2. as comparações com Eric Rohmer são muito bem
fundadas.
Parece um filme sensível...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
De fato Antônio, se trata de um filme sensível, bem longe do piegas.
ExcluirAbraço.