Ainda não assisti a qualquer
filme que seja de Chantal Akerman, apenas conheço a fama dos mesmos pelas
diversas resenhas e críticas que li a respeito do trabalho da diretora (a
Revista Cinética fez uma cobertura bacana quando o CCBB abrigou uma retrospectiva
da cineasta em março de 2009), cuja análise recai quase sempre sobre o seu minimalismo
e o rigor estético de suas composições. Para os cinéfilos de plantão, a Lume
Filmes lançou no início do ano passado o título mais famoso da diretora: Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080
Bruxelles (1975).
São mais de três horas
acompanhando o cotidiano de uma dona de casa de mais ou menos 40 anos, viúva,
com um filho, que tira seus proventos da prostituição ocasional. São demorados planos
estáticos que documentam as monótonas tarefas domésticas da sua protagonista
(Delphine Seyrig). O crítico Travis Crawford termina seu texto a respeito do
filme da seguinte forma:
“Quando o espectador chega à marca de três horas, a tensão microscópica
de músculos faciais e a aspereza aumentada do gesto que acompanham a fervura do
café ou o cozimento das batatas assumem o caráter de um melodrama épico. Talvez
seja o tipo de filme que funciona melhor como teoria, e não como algo que se
tenha prazer em assistir, mas, para o espectador afinado com a abordagem
austera de Akerman, ele permanece, em muitos aspectos, um feito inesquecível.”
Os diretores Gustavo Beck e Leonardo
Luiz Ferreira absorveram os ensinamentos da diretora e reproduziram a sua
estética à perfeição na entrevista de 60 minutos que fizeram com ela para o que
acabou se tornando o filme Chantal
Akerman, de cá (2010). Passados 10 minutos de projeção, quando já
compreendemos o intuito da proposta (coerente com o objeto de estudo), restam apenas
as palavras de Chantal. Em suma, ela merece, e muito, ser ouvida. Segue um
trechinho (talvez o melhor) que precisei ouvir três vezes pra acreditar,
tamanho o meu encantamento com o discurso. A tradução é do Canal Brasil.
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Leonardo Luiz Ferreira: Desde Diderot, há discussões a respeito da
quarta parede e do que ela representa nos trabalhos de arte: uma janela
representando uma porta para o mundo e a existência do espectador. Quando você
coloca uma mulher fazendo as tarefas domésticas em tempo real, isso coloca o
seu cinema numa reflexão dessa presença para o espectador. Ele sente a presença
e as atitudes. O que você acha da relação entre os seus filmes e os
espectadores? Quando faz um filme e cria algo em tempo real, você sempre pensa
no espectador?
Chantal Akerman: Nunca penso nos espectadores. E ninguém faz isso. É
restaurado. Eu sou o primeiro espectador. Então, todos estarão no meu lugar, no
cinema. É uma situação em que você fica frente a frente. Porque é direto. Não é
por cima nem por baixo, é uma linha reta. Então, o espectador está na sala no
sentido oposto. Ele está do outro lado da tela. São lados opostos. Mas é igual,
de certa forma. E... de certa forma... você, como espectador, você sente o
tempo passar. Você sente o tempo passar em seu próprio corpo. A maioria das
pessoas que vai ao cinema e gosta do filme diz: “Nem vi o tempo passar. O tempo
voou.” Esse, supostamente, é um bom filme. Mas acho que, quando você não vê o
tempo passar, estão roubando 1:30h, 2h da sua vida. Porque a única coisa que
temos na vida é tempo. Nos meus filmes, você está ciente de cada segundo que se
passa. Através do seu corpo. Então... de certa forma, você está encarando a si
mesmo, porque tentamos nos divertir o tempo todo durante a vida para esquecer o
tempo, porque ele nos deixa ansiosos ou seja lá o que for. Mas é a única coisa
que você tem: tempo.
Nem queira assistir, Rodrigo... É um cinema super aborrecido...
ResponderExcluirO Falcão Maltês
Eu nem duvido que seja Antônio, mas minha curiosidade não vai me permitir que os filmes de Chantal passem em branco. Em outro post conto como foi a experiência.
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