sábado, janeiro 21, 2012

Chantal Akerman, de cá (Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira, 2010)




Ainda não assisti a qualquer filme que seja de Chantal Akerman, apenas conheço a fama dos mesmos pelas diversas resenhas e críticas que li a respeito do trabalho da diretora (a Revista Cinética fez uma cobertura bacana quando o CCBB abrigou uma retrospectiva da cineasta em março de 2009), cuja análise recai quase sempre sobre o seu minimalismo e o rigor estético de suas composições. Para os cinéfilos de plantão, a Lume Filmes lançou no início do ano passado o título mais famoso da diretora: Jeanne Dielman, 23 Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975).

São mais de três horas acompanhando o cotidiano de uma dona de casa de mais ou menos 40 anos, viúva, com um filho, que tira seus proventos da prostituição ocasional. São demorados planos estáticos que documentam as monótonas tarefas domésticas da sua protagonista (Delphine Seyrig). O crítico Travis Crawford termina seu texto a respeito do filme da seguinte forma:

“Quando o espectador chega à marca de três horas, a tensão microscópica de músculos faciais e a aspereza aumentada do gesto que acompanham a fervura do café ou o cozimento das batatas assumem o caráter de um melodrama épico. Talvez seja o tipo de filme que funciona melhor como teoria, e não como algo que se tenha prazer em assistir, mas, para o espectador afinado com a abordagem austera de Akerman, ele permanece, em muitos aspectos, um feito inesquecível.”

Os diretores Gustavo Beck e Leonardo Luiz Ferreira absorveram os ensinamentos da diretora e reproduziram a sua estética à perfeição na entrevista de 60 minutos que fizeram com ela para o que acabou se tornando o filme Chantal Akerman, de cá (2010). Passados 10 minutos de projeção, quando já compreendemos o intuito da proposta (coerente com o objeto de estudo), restam apenas as palavras de Chantal. Em suma, ela merece, e muito, ser ouvida. Segue um trechinho (talvez o melhor) que precisei ouvir três vezes pra acreditar, tamanho o meu encantamento com o discurso. A tradução é do Canal Brasil.
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Leonardo Luiz Ferreira: Desde Diderot, há discussões a respeito da quarta parede e do que ela representa nos trabalhos de arte: uma janela representando uma porta para o mundo e a existência do espectador. Quando você coloca uma mulher fazendo as tarefas domésticas em tempo real, isso coloca o seu cinema numa reflexão dessa presença para o espectador. Ele sente a presença e as atitudes. O que você acha da relação entre os seus filmes e os espectadores? Quando faz um filme e cria algo em tempo real, você sempre pensa no espectador?

Chantal Akerman: Nunca penso nos espectadores. E ninguém faz isso. É restaurado. Eu sou o primeiro espectador. Então, todos estarão no meu lugar, no cinema. É uma situação em que você fica frente a frente. Porque é direto. Não é por cima nem por baixo, é uma linha reta. Então, o espectador está na sala no sentido oposto. Ele está do outro lado da tela. São lados opostos. Mas é igual, de certa forma. E... de certa forma... você, como espectador, você sente o tempo passar. Você sente o tempo passar em seu próprio corpo. A maioria das pessoas que vai ao cinema e gosta do filme diz: “Nem vi o tempo passar. O tempo voou.” Esse, supostamente, é um bom filme. Mas acho que, quando você não vê o tempo passar, estão roubando 1:30h, 2h da sua vida. Porque a única coisa que temos na vida é tempo. Nos meus filmes, você está ciente de cada segundo que se passa. Através do seu corpo. Então... de certa forma, você está encarando a si mesmo, porque tentamos nos divertir o tempo todo durante a vida para esquecer o tempo, porque ele nos deixa ansiosos ou seja lá o que for. Mas é a única coisa que você tem: tempo.

2 comentários:

  1. Nem queira assistir, Rodrigo... É um cinema super aborrecido...


    O Falcão Maltês

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    1. Eu nem duvido que seja Antônio, mas minha curiosidade não vai me permitir que os filmes de Chantal passem em branco. Em outro post conto como foi a experiência.

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