Uma sessão de Curvas da Vida seguida ou precedida de O Homem que Mudou o Jogo (Bennett Miller,
2011) daria uma interessante dobradinha. Enquanto o primeiro reprova a interferência
da estatística para estabelecer o perfil de um jogador de beisebol, o segundo se
presta a narrar o processo em que a sua adoção, ao que parece, alterou definitivamente
os parâmetros de análise do jogo. Ao contrário do que se prega, não considero
nem um pouco necessário para acompanhar os filmes um conhecimento prévio das
regras que regem esse esporte, embora eu concorde que esse argumento justifique
o suposto desinteresse do público brasileiro por eles. Como todo filme de
esporte, o que interessa de fato é o que se encontra fora do campo, não o que
se passa dentro dele. O que está verdadeiramente em jogo é a relação interpessoal
daqueles que promovem o espetáculo, seja ele cinematográfico, como o boxe, ou
não, como os demais esportes.
Mesmo com todos os defeitos possíveis,
tendo a preferir o calor humano de Curvas
da Vida à frieza contida de O Homem
que Mudou o Jogo, apesar da intensa badalação a este último na temporada de
premiação do ano passado. O charme de Curvas
da Vida é irresistível, tanto pela forte influência física (como ator) e
temática de Clint Eastwood na produção, como pela iluminada interpretação de
Amy Adams, cuja graça espontânea enobrece seu personagem. Eu sempre desconfiei
dessa característica em suas interpretações, a ponto de considerá-la forçada em
boa parte das vezes. Depois das duas produções que contam com a sua presença no
ano passado, Curvas e O Mestre (Paul Thomas Anderson),
finalmente me rendi ao seu encanto. Não é exagero afirmar que o filme vale por causa
dela.
O diretor Robert Lorenz tem sido
desqualificado justamente por estar à sombra de Clint Eastwood. O crítico da Folha, Inácio Araújo, em breve
comentário de Curva em seu blog diz,
“parece que estamos assistindo a um novo Buddy Van Horn. Quer dizer, de alguém
que vai dar em nada”. Estou mais para o Sérgio Alpendre, ao afirmar que “a
direção de Lorenz é segura, coisa de artesão da Hollywood dos anos 1950, o que
não quer dizer que seja medíocre”. Lorenz produziu os últimos 10 filmes de
Eastwood, além de servi-lo como second
assistant director em 8 dessas produções. Parece ser sócio de Eastwood na
produtora Malpaso. Depois de uma longa carreira premiada, nada como um generoso
reconhecimento por uma frutífera parceria. Lembra-me a ultrapassagem consentida
de Gerard Berger em Airton Senna na última curva do Grande Prêmio do Japão de
1991. Com o campeonato assegurado, a pedido do chefe da equipe Ron Dennis,
Senna cedeu a vitória no GP em questão ao seu parceiro de corrida depois de três
temporadas juntos. Um gesto à altura dos melhores personagens das produções da
dupla.
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