sexta-feira, novembro 05, 2010

34ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo

Apesar de dispor de apenas três dias para usufruir das centenas de opções que a Mostra de São Paulo oferecia, acredito ter feito boas escolhas durante o feriado de finados. Acabei completando a programação com alguns filmes em cartaz que certamente não chegarão aos cinemas de Ribeirão Preto. Meu único critério foi evitar filmes mais óbvios que já haviam garantido suas distribuições no circuito brasileiro. Ainda assim, como sempre, aquela sensação de que teria sido possível encaixar alguma coisa a mais na programação permanece. Fica pro ano que vem.

Arcadia Lost (2010), de Phedon Papamichael (GRÉCIA)

Parece-me uma boa idéia - não necessariamente nova - que não recebeu um tratamento à altura. Apesar de o diretor ser o fotógrafo de vários sucessos recentes – Sideways, À procura da felicidade, Johnny & June, etc – é no trabalho de câmera que o filme peca ao não conseguir criar a atmosfera requerida para dar conta do recado. Dá pena ver Nick Nolte se esforçando para tentar conferir alguma credibilidade ao filme. Em vão.

Eu matei minha mãe (2009), de Xavier Dolan (CANADÁ)*

Estréia promissora do jovem canadense Xavier Dolan como protagonista, escritor e diretor aos 22 anos. Apesar dos excessos do seu estilo um tanto quanto afetado, o filme é forte e constrói uma densa relação conturbada entre mãe e filho. Provavelmente será o filme a ser adotado pela geração dos anos 90. Obrigatório para toda a família. A Mostra trazia o segundo filme de Dolan, Os amores imaginários (2010), mas resolvi aguardar a sua estréia em circuito comercial.

O último cartucho (1917), de John Ford (EUA)

Esse deve ter um post só pra ele

Contos da Era Dourada (2009), de Cristian Mungiu e outros (ROMÊNIA)*

Esses romenos me surpreendem cada vez mais. São seis episódios dirigidos por Mungiu – 4 meses, 3 semanas e 2 dias - e seus convidados a partir de “lendas” da época de Nicolau Ciaucesco. Os episódios são filmados em tom bem alto astral, debochado e irônico. Os dois primeiros – das garrafas e das galinhas – terminam em tom amargo. Nenhum dos seis questiona a causa de forma direta; as pessoas não tinham escolha, elas simplesmente tentavam sobreviver sob o regime. Hilário. Lembra um pouco os filmes de Emir Kusturica.

Memórias de Xangai (I wish I knew, 2010), de Jia Zhang-Je (CHINA)

Toda vez que assisto a um filme de Jia me dá uma vontade tremenda de conhecer a China. Ninguém filma a China como ele. Ninguém filma os chineses como ele. Esse é o típico filme formatado para ser visto no cinema. Não cabe na tela da TV. Uma pena que eu não tenha conseguido ver o documentário China (1972), de Michelangelo Antonioni. Também fazia parte da Mostra. Os dois devem formar um díptico perfeito.

Caterpillar (2010), de Kôji Wakamatsu (JAPÃO)

O Japão e seus demônios da Segunda Guerra Mundial. O filme é sufocante ao extremo, o diretor não poupa o espectador. Não é pra menos: um combatente volta da guerra sem braços, pernas, surdo e mudo. Sobrevive sob os cuidados da esposa que é pressionada pelo povoado a exercer suas funções domésticas: dar de comer, de beber e fazer sexo. O resultado é surpreendente.

Aurora (2010), de Cristi Puiu (ROMÊNIA)

Mais um romeno. O tom minimalista de Polícia, Adjetivo (2009) prevalece. Confesso que as três horas de duração afetaram meu juízo tanto que dei uma avaliação regular, 2 – a Mostra convida seus espectadores a avaliar os filmes selecionados, de 1 a 5, na saída das sessões. Um dia depois, o filme não sai da minha cabeça. Quem filma uma cena em que uma senhora descasca dez batatas sem cortes de filmagem? Em casa talvez eu tivesse assistido ao filme em capítulos, o que prejudicaria a percepção do tempo que ele tanto preza. Não sei se assistiria de novo, mas gostei da experiência.

Um homem que grita (2010), Mahamat-Saleh Haroun (CHADE)

Uma grande descoberta. Filme com cara de pequeno, aparentemente simples e com poucos personagens em cena. Com limitados recursos em mãos e um talento enorme para sugerir que se veja além daquilo que é mostrado, o drama de uma família do Chade representa o drama do continente africano. Chora-se não pelo filho que o pai perdeu, mas pelos filhos que a África perdeu e pelos filhos que há de perder. O horror, o horror.

* Filmes que estavam em cartaz em São Paulo

Parabéns aos organizadores da Mostra. Do pouco que consegui acompanhar, a organização estava impecável.

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