A desconfiança é o meio mais
apropriado para encarar a polêmica que cercou a exibição de Azul é a Cor Mais Quente em Cannes, que desde
então vem acompanhando o filme em todas as praças em que ele estreia. Embora
ela lhe proporcione uma exposição desmesurada, servindo como uma campanha de
marketing (até certo ponto) involuntária,
ela encobre, a ponto de cegar, a beleza que envolve o tratamento da questão –
essencialmente, uma intensa relação amorosa entre dois seres-humanos. As cenas
de sexo entre as duas atrizes, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux, em especial a
primeira, mais longa, são de fato muito bem escaneadas (daí que alguns
espectadores se dispuseram a manifestar a sua indignação contra a causa – o
homossexualismo). Mas também é fato que o diretor Abdellatif Kechiche
desenvolve a sua Adèle (Adèle Exarchopoulos) ancorada, quase em absoluto, no
desejo carnal, de forma que o apetite sexual imoderado dela por Emma (Léa
Seydoux) parece ser a única força motriz capaz de propulsionar o leme da sua vida. Não
é exagero afirmar que todo o restante na vida dela é significativamente mal
resolvido, apesar de que a adolescência se encarrega de absorver boa parte da
culpa por essa (maldita) condição. A adolescência, período da descoberta por
excelência, funciona como uma espécie de álibi para Kechiche, que se esquiva da
necessidade de explicar o inexplicável.
Como bem pontuou o Filipe Furtado
em breve comentário no seu blog, o esquematismo da segunda parte, em que pesa a
tentativa de se estabelecer a influência dos pais e do meio social (as cenas
dos jantares se prestam a esse fim), dilui um pouco da força que o corpo de
Adèle se esforçou para imprimir na primeira parte, quando fora extenuantemente
explorado por Kechiche nos (perversos) closes do seu rosto e da sua boca. Aqui
ele é acusado de voyeurismo, mas
fosse o relacionamento explorado heterossexual, diriam que a sua câmera estava
apaixonada pela protagonista. Afinal, quem não ficou?
A menina comendo macarronada com a boca aberta, com molho escorrendo e catarro no nariz também... Achei um pouco tosco, pra ser sincero, hehe.
ResponderExcluirFalando sério, não gostei do filme, mas tem um texto muito bom sobre ele:
ResponderExcluirhttp://cinedrio.blogspot.pt/2013/12/la-vie-dadele-chapitre-1-e-2-2013-de.html
Eu gostei do filme Alexandre, talvez não a ponto de relacioná-lo numa lista de melhores do ano, mas considero-o um honesto rito de passagem. Ele se sustenta muito bem nas interpretações. Valeu pelo link, totalmente fundamentado nas cenas de refeições. Talvez essas passagens configurem a contribuição de Kechiche sobre o material da graphic novel que lhe serviu de ponto de partida. Valeu.
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