Perdi as contas de quantas vezes vi os Caçadores. Todas em Telas Quentes, SuperCines e Sessões da Tarde da Rede Globo em
versões dubladas e na janela 1.37:1, além das gravações em VHS (como o filme
era exibido frequentemente, dava para manter as gravações num nível bacana de
qualidade, já que o conteúdo deteriorava se fosse muito acessado). Esse é o
típico filme descoberto no final da infância/início da pré-adolescência, que
desperta a vontade incontrolável de se ver inúmeras vezes sem prejuízo algum
para a aura que envolve o seu encanto. Depois vieram as continuações, no mesmo
patamar de qualidade do original, capazes de alternar constantemente o meu
ranking pessoal de preferência (Indiana
Jones e a Última Cruzada foi o único visto no cinema).
A sessão do Cinemark serviu para colocar
a minha relação com o filme em perspectiva, uma vez que a experiência de vê-lo
havia sido anterior ao período em que a cinefilia amadureceu na minha vida.
- é impressionante o cuidado que
Spielberg demonstra com a apresentação do personagem logo na primeira cena do
filme (desde os créditos de abertura até a fuga de Indiana Jones em um avião monomotor). Ele administra o tempo de forma magistral, alternando
momentos de suspense (susto) e humor, de pausa (reflexão) e aceleração (ação),
definindo o ritmo que irá perdurar por toda a projeção. Alfred Molina tem uma
participação curta, porém memorável. Harrison Ford conquista o espectador com
um charme irresistível, pautado exclusivamente na expressão corporal, num raro
equilíbrio entre a fragilidade e o excesso de auto confiança;
- o filme é muito mais infantil do que
aparenta, embora os personagens se esforcem para não demonstrá-lo. O diretor
encontra o equilíbrio entre a fantasia e a realidade, conduzindo o enredo sem
se levar muito a sério (o personagem de Indiana Jones e a interpretação de
Harrison Ford balizam essa percepção). Mesmo emoldurado num formato que
dificulta o destaque da expressão pessoal, Spielberg encontra espaço para
exercer suas obsessões e projetar seu universo sobre o material (a Arca Perdida
do título teria sido a melhor “arma judia” empregada para combater os nazistas
nefastos, um verdadeiro instrumento de extermínio do mal). Quentin Tarantino
levaria essa "expressão autoral" às últimas consequências, valendo-se
do próprio cinema (no caso, o material inflamável do qual os negativos eram
feitos) para dar cabo dos nazistas em Bastardos
Inglórios (2009);
- a única cena íntima entre Harrison Ford
e Karen Allen é um deleite visual puro, que dá conta de conjugar romance,
aventura e humor no mesmo pacote, sem trair o espírito de leveza de toda a
empreitada (é importante lembrar que a produção tem classificação livre). A
sensação de que estamos sendo trapaceados pela esperteza do diretor é
constante, mas mesmo diante dessa constatação, que normalmente causa um distanciamento
da proposta, neste caso nos impulsiona com mais força para a sua aceitação.
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