quinta-feira, junho 18, 2015

Os Caçadores da Arca Perdida (Steven Spielberg, 1981)


Perdi as contas de quantas vezes vi os Caçadores. Todas em Telas Quentes, SuperCines e Sessões da Tarde da Rede Globo em versões dubladas e na janela 1.37:1, além das gravações em VHS (como o filme era exibido frequentemente, dava para manter as gravações num nível bacana de qualidade, já que o conteúdo deteriorava se fosse muito acessado). Esse é o típico filme descoberto no final da infância/início da pré-adolescência, que desperta a vontade incontrolável de se ver inúmeras vezes sem prejuízo algum para a aura que envolve o seu encanto. Depois vieram as continuações, no mesmo patamar de qualidade do original, capazes de alternar constantemente o meu ranking pessoal de preferência (Indiana Jones e a Última Cruzada foi o único visto no cinema).

A sessão do Cinemark serviu para colocar a minha relação com o filme em perspectiva, uma vez que a experiência de vê-lo havia sido anterior ao período em que a cinefilia amadureceu na minha vida.

- é impressionante o cuidado que Spielberg demonstra com a apresentação do personagem logo na primeira cena do filme (desde os créditos de abertura até a fuga de Indiana Jones em um avião monomotor). Ele administra o tempo de forma magistral, alternando momentos de suspense (susto) e humor, de pausa (reflexão) e aceleração (ação), definindo o ritmo que irá perdurar por toda a projeção. Alfred Molina tem uma participação curta, porém memorável. Harrison Ford conquista o espectador com um charme irresistível, pautado exclusivamente na expressão corporal, num raro equilíbrio entre a fragilidade e o excesso de auto confiança;

- o filme é muito mais infantil do que aparenta, embora os personagens se esforcem para não demonstrá-lo. O diretor encontra o equilíbrio entre a fantasia e a realidade, conduzindo o enredo sem se levar muito a sério (o personagem de Indiana Jones e a interpretação de Harrison Ford balizam essa percepção). Mesmo emoldurado num formato que dificulta o destaque da expressão pessoal, Spielberg encontra espaço para exercer suas obsessões e projetar seu universo sobre o material (a Arca Perdida do título teria sido a melhor “arma judia” empregada para combater os nazistas nefastos, um verdadeiro instrumento de extermínio do mal). Quentin Tarantino levaria essa "expressão autoral" às últimas consequências, valendo-se do próprio cinema (no caso, o material inflamável do qual os negativos eram feitos) para dar cabo dos nazistas em Bastardos Inglórios (2009);

- a única cena íntima entre Harrison Ford e Karen Allen é um deleite visual puro, que dá conta de conjugar romance, aventura e humor no mesmo pacote, sem trair o espírito de leveza de toda a empreitada (é importante lembrar que a produção tem classificação livre). A sensação de que estamos sendo trapaceados pela esperteza do diretor é constante, mas mesmo diante dessa constatação, que normalmente causa um distanciamento da proposta, neste caso nos impulsiona com mais força para a sua aceitação.

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