quarta-feira, setembro 30, 2015

Que horas ela volta? (Anna Muylaert, 2015)


Eu queria ter gostado mais de Que Horas Ela Volta?, por mais que eu o considere um bom filme. A sombra das outras produções de Anna Muylaert influenciaram a minha percepção de forma que eu sinto falta do surrealismo do Durval Discos (2002), que me surpreendeu demais, e do clima de tensão crescente de É Proibido Fumar (2009), evoluindo para um suspense em seu desfecho. São filmes mais difíceis de rotular, se é que existe alguma vantagem nisso. A rica interação entre os personagens continua a representar a essência do seu trabalho, que não seria suficiente se não houvesse talento para dirigir os atores. Não é fácil desarmar o espectador das figuras públicas de Glória Pires e Regina Casé, que deixam a vaidade em casa para interpretar pessoas absolutamente comuns, contrárias ao universo de glamour que elas habitam.

Suas estórias se passam em ambientes fechados (sejam eles uma casa, um apartamento ou um carro), e contam sempre com um elemento externo, representado por um dos personagens, que entra em cena para romper com a letargia do protagonista. Desta vez o "tema" do filme dominou a pauta de discussões, trazendo à tona o conflito de classes (bem como o conflito geracional), refletindo a condição atual da doméstica brasileira - e talvez mais importante, porém menos evidente, a condição atual da mulher brasileira, já que são as três personagens femininas que empurram a narrativa.

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