Sem que isso represente qualquer tipo de spoiler, as estrelas do título Mapas para
as Estrelas são as celebridades que movimentam (ou já movimentaram) a
máquina de entretenimento de Hollywood. O título completo refere-se à rota a
qual inúmeros turistas se submetem ao visitarem Los Angeles, interessados em
conhecer o paradeiro dos seus astros favoritos. A galeria de personagens
abordada pelo filme inclui o(a) estrela, o(a) agente, o(a) pretendente, o(a)
assessor(a), o(a) fã e toda a esfera de sangue-sugas que orbitam esse universo
de glamour.
Mesmo sem contar com um personagem ativo
que represente essa estrela, um filme como Bling
Ring (Sofia Copolla, 2012) me diz bem mais sobre Hollywood do que a
abordagem direta que Mapas para as
Estrelas faz dos bastidores do showbizz.
Bling
Ring explora a influência bizarra que a busca incessante por fama
e reconhecimento pode causar na vida de jovens aspirantes sem um horizonte
consistente de perspectivas. A diretora Sofia Coppola aborda esse universo pela
ótica do fã, construindo um cenário bastante melancólico da questão, que beira
o absurdo.
A inconsistência dos valores
compartilhados por esses tipos encontra na abordagem contida de Coppola o seu
discurso mais eloquente. As invasões às mansões das celebridades à procura de
pertences em seus guarda roupas representam a essência da futilidade que esses
jovens insistem em idolatrar. O panorama de bestialidade se completa quando a
figura dos pais entra em cena a fim de encorajá-los a seguir buscando esse
modelo falido de ascensão social e/ou reconhecimento. A superfície cristalina
desse mundo esconde um conteúdo totalmente oco.
Mapas para as Estrelas também aborda esse
universo doentio, porém se vale de tipos bem mais caricatos para explorá-lo.
Essa opção de abordagem causa um distanciamento da proposta, cuja extravagancia
já se encontra intrinsicamente atrelada a ela (reflexo da própria natureza
excêntrica da celebridade). A personagem da protagonista, Agatha, interpretada
por Mia Wasikowska, é fraca demais para sustentar o peso do filme. Ela é o elo
de ligação entre todo o restante, representando o bastião de sanidade que falta
à outra parte do conjunto.
Mesmo não tendo me envolvido
completamente com a proposta de Cronenberg, as palavras de Bruno Cursini para a Revista Interlúdio me ajudaram a melhor considerá-lo.
Antes de sabermos sua verdadeira identidade, o roteiro de Bruce Wagner insere outros personagens, nenhum dos quais capaz de causar simpatia. É como se aquelas paisagens – há muito transformadas em cenários – carregassem consigo alguma energia contagiosa e hábil em destituir seus habitantes de quaisquer sentimentos além daqueles mais primitivos. Em outras palavras, estamos diante de caricaturas repulsivas, à beira do insuportável: Havana Segrand (Julianne Moore) é uma decadente atriz tentando desesperadamente fazer o remake de um filme cujo original foi protagonizado por sua própria mãe. Neurótica, conforta-se em sessões regulares com um mezzo massagista mezzo guru – completo picareta – interpretado por John Cusack. Ele é pai tanto de um ator mirim dependente químico (Evan Bird) quanto de Agatha, fugitiva desde que ateou fogo na casa em que moravam. Para fechar o círculo de tão sutil trama, ela torna-se a faz-tudo de Havana.
Seja por ter um transtorno mental previamente diagnosticado ou por ter passado uma longa temporada afastada daquele universo, Agatha permanecerá a pessoa pela qual pode-se crer em alguma forma de remissão. Com suas cicatrizes de queimadura pelo rosto e suas longas luvas pretas, ela é a única capaz de reconhecer (e reagir violentamente, por fim) a doença escamoteada por traz de toda aquela exterioridade asséptica. O incômodo que sua presença traz é por refletir, às claras, o que os outros escondem. Desfigurada e em algum estágio incerto de metamorfose, é ela a personagem que ligamos à filmografia de Cronenberg. Ao novamente recusar a podridão ao seu redor, ela parte em busca de seu irmão. Estas ações (suas últimas) devem ser compreendidas como uma espécie de resgate, sendo talvez as únicas com alguma coerência – certamente as mais humanas que dali poderiam sair.
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