Eu acho que o nome do filme nunca me despertou o devido
interesse quando eu frequentava locadoras nas décadas de 80 e 90. Era sempre um
título disponível, que, embora estrelado por um astro em ascensão / consolidado
na ocasião (Harrison Ford em ótima performance), não foi capaz de romper a
barreira da minha curiosidade. A comodidade de acesso ao Netflix me trouxe ele numa bandeja
que eu não pude recusar: dois ou três cliques e o brasão da Warner Bros. já
estava girando no centro do meu televisor.
Honestamente, foi a descoberta de que
Paul Schrader roteirizava o filme que me levou a ele, ainda que possa ser
considerado um autêntico Peter Weir (a relação de autoria também funciona para
a parceria Schrader-Scorsese, no sentido de que o universo abordado funciona
para ambos os cineastas).
A relação do homem branco "civilizado"
com outra cultura permeia a filmografia de Peter Weir. O espectador descobre
junto com o protagonista (o tal homem branco) a extensão da sua insignificância
à medida que sua curiosidade avança sobre a outra cultura (sobrepondo-se a
ela). O instinto predatório de dominação, contrário à ideia de aproximação e
compreensão do outro, culmina fatalmente com a
violência. A religião, que talvez pudesse apaziguar os ânimos dos envolvidos, escamoteia
as reais intenções dos seus pregadores, cujas investidas
"civilizatórias" se justificam como a manifestação voluntária da
vontade de Deus. Por fim, prevalece a máxima de Thomas Hobbes: "o homem é
o lobo do homem".
Cada um puxa a sardinha para o seu lado
em detrimento dos interesses alheios. Allie Fox (Harrison Ford) se torna uma
vítima da sua própria obsessão, perdendo de vista seus próprios ideais e sendo
levado por um senso de propósito distorcido. Ele abandona um ambiente que
considera ofensivo (os EUA dos anos 80), levando toda a família em busca do sonho de poder erguer sua própria
cultura (ao exercer sua influência sobre um meio ambiente "virgem", a Costa do Mosquito do título). A seu ver, sua inteligência
(extremamente valorizada pelos outros personagens do filme) e senso civilizatório seriam
suficientes para garantir o bem estar de seus pares bem como de quem fosse
influenciado por ele. Allie só não contava encontrar com outros indivíduos com
a mesma intenção que a sua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário