sexta-feira, novembro 20, 2015

A Costa do Mosquito (Peter Weir, 1986)


Eu acho que o nome do filme nunca me despertou o devido interesse quando eu frequentava locadoras nas décadas de 80 e 90. Era sempre um título disponível, que, embora estrelado por um astro em ascensão / consolidado na ocasião (Harrison Ford em ótima performance), não foi capaz de romper a barreira da minha curiosidade. A comodidade de acesso ao Netflix me trouxe ele numa bandeja que eu não pude recusar: dois ou três cliques e o brasão da Warner Bros. já estava girando no centro do meu televisor.

Honestamente, foi a descoberta de que Paul Schrader roteirizava o filme que me levou a ele, ainda que possa ser considerado um autêntico Peter Weir (a relação de autoria também funciona para a parceria Schrader-Scorsese, no sentido de que o universo abordado funciona para ambos os cineastas).

A relação do homem branco "civilizado" com outra cultura permeia a filmografia de Peter Weir. O espectador descobre junto com o protagonista (o tal homem branco) a extensão da sua insignificância à medida que sua curiosidade avança sobre a outra cultura (sobrepondo-se a ela). O instinto predatório de dominação, contrário à ideia de aproximação e compreensão do outro, culmina fatalmente com a violência. A religião, que talvez pudesse apaziguar os ânimos dos envolvidos, escamoteia as reais intenções dos seus pregadores, cujas investidas "civilizatórias" se justificam como a manifestação voluntária da vontade de Deus. Por fim, prevalece a máxima de Thomas Hobbes: "o homem é o lobo do homem".

Cada um puxa a sardinha para o seu lado em detrimento dos interesses alheios. Allie Fox (Harrison Ford) se torna uma vítima da sua própria obsessão, perdendo de vista seus próprios ideais e sendo levado por um senso de propósito distorcido. Ele abandona um ambiente que considera ofensivo (os EUA dos anos 80), levando toda a família em busca do sonho de poder erguer sua própria cultura (ao exercer sua influência sobre um meio ambiente "virgem", a Costa do Mosquito do título). A seu ver, sua inteligência (extremamente valorizada pelos outros personagens do filme) e senso civilizatório seriam suficientes para garantir o bem estar de seus pares bem como de quem fosse influenciado por ele. Allie só não contava encontrar com outros indivíduos com a mesma intenção que a sua.

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