domingo, junho 09, 2019

The Heartbreak Kid (Elaine May, 1972)




Optei pelo nome original já que dependendo da fonte escolhida a tradução pode variar bastante, Corações em Alta, O Rapaz que Partia Corações, etc.

Na postagem de A Guerra do Vietnã comentei do legado proporcionado pelo evento na esfera cinematográfica que, antes de assistir ao documentário, muitas vezes me pareciam desconexos, frouxos, ou difíceis de serem sustentados. Esse filme é um exemplo prático da transformação empreendida: ganhou uma complexidade extra a partir do melhor entendimento do contexto em que fora produzido. A aproximação que o texto de Adrian Martin faz com A Primeira Noite de um Homem (Mike Nichols, 1967) é muito apropriada.

Por Adrian Martin

Elaine May é a diretora mais subestimada do cinema americano. The heartbreak kid é o mais próximo que já chegou do sucesso de grande público, mas ela se mantém verdadeira quanto à sua visão corrosiva e inflexível. Embora permaneça essencialmente fiel ao roteiro de Neil Simon (com ecos do filme de 1967, A primeira noite de um homem), Elaine consegue massacrar a aura sentimental e imbuída de uma sensação de felicidade presente na contribuição nociva daquele escritor de filmes populares. Ela faz essa passagem acentuando atos desagradáveis de crueldade, humilhação e constrangimento.

A comédia negra, aqui, possui uma face mundana. Lenny (Charles Grodin em seu melhor papel), um vendedor imbecil, está em lua-de-mel com a horrenda mas generosa Lila (Jeannie Berlin – há alguma outra mãe que tenha dirigido a sua filha em um papel tão valente e radical?). Sentindo-se aprisionado e sufocado, as fantasias bastante superficiais de Lenny se viram para o sonho americano da garota ideal, Kelly (Cybill Shepherd). Cada consequência desse triângulo é um desastre.

Poucos filmes nos fazem mergulhar tão impiedosamente na vulgaridade dos sonhos românticos e sexuais. O foco de May neste material é puro John Cassavetes: uma documentação inflexível do desconforto; a dor verdadeira mostrada em tempo real. Nossa risada, tão brilhantemente provocada pela atuação de Elaine, torna-se histérica no sentido psicanalítico do termo: um caminho para fugir temporariamente do horror.

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