Optei pelo nome original já que dependendo da fonte escolhida a tradução pode variar bastante, Corações em Alta, O Rapaz que Partia Corações, etc.
Na postagem de A Guerra do Vietnã comentei do legado proporcionado pelo evento na esfera cinematográfica que, antes de assistir ao documentário, muitas vezes me pareciam desconexos, frouxos, ou difíceis de serem sustentados. Esse filme é um exemplo prático da transformação empreendida: ganhou uma complexidade extra a partir do melhor entendimento do contexto em que fora produzido. A aproximação que o texto de Adrian Martin faz com A Primeira Noite de um Homem (Mike Nichols, 1967) é muito apropriada.
Por Adrian Martin
Elaine May é a diretora mais
subestimada do cinema americano. The
heartbreak kid é o mais próximo que já chegou do sucesso de grande público,
mas ela se mantém verdadeira quanto à sua visão corrosiva e inflexível. Embora
permaneça essencialmente fiel ao roteiro de Neil Simon (com ecos do filme de
1967, A primeira noite de um homem),
Elaine consegue massacrar a aura sentimental e imbuída de uma sensação de
felicidade presente na contribuição nociva daquele escritor de filmes
populares. Ela faz essa passagem acentuando atos desagradáveis de crueldade,
humilhação e constrangimento.
A comédia negra, aqui, possui uma
face mundana. Lenny (Charles Grodin em seu melhor papel), um vendedor imbecil, está em lua-de-mel com a horrenda mas
generosa Lila (Jeannie Berlin – há alguma outra mãe que tenha dirigido a sua
filha em um papel tão valente e radical?). Sentindo-se aprisionado e sufocado,
as fantasias bastante superficiais de Lenny se viram para o sonho americano da
garota ideal, Kelly (Cybill Shepherd). Cada consequência desse triângulo é um
desastre.
Poucos filmes nos fazem mergulhar
tão impiedosamente na vulgaridade dos sonhos românticos e sexuais. O foco de
May neste material é puro John Cassavetes: uma documentação inflexível do
desconforto; a dor verdadeira mostrada em tempo real. Nossa risada, tão
brilhantemente provocada pela atuação de Elaine, torna-se histérica no sentido
psicanalítico do termo: um caminho para fugir temporariamente do horror.
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