segunda-feira, maio 07, 2012

Delírio de Loucura (Nicholas Ray, 1956)



Meus heróis não são mais neuróticos do que a plateia. A menos que sinta que um herói está tão fodido quanto você e que você poderia cometer os mesmo erros que ele, você não vai ter nenhuma satisfação quando ele pratica um ato heroico, porque neste caso você pode dizer: “Diabo, eu poderia ter feito isso também!”. Essa é a obrigação do cineasta – dar uma sensação intensificada de experiência às pessoas que pagam para ver o seu trabalho.
Nicholas Ray


Por Geoff Andrew

O melhor dos filmes de Nicholas Ray é um melodrama expressionista brilhante que utiliza a controvérsia então atual da descoberta e implementação da “droga milagrosa” cortisona (um tipo de esteroide) para desenvolver uma crítica devastadora ao conformismo materialista de classe média que definia o Sonho Americano durante o pós-guerra.

O taciturno James Mason (que também produziu o filme) está perfeito como o professor de uma cidade pequena atormentado por uma crise financeira e de meia-idade que, depois de lhe receitarem esteroides, fica viciado na sensação de bem-estar que eles provocam. Isso o transforma em um tirano megalomaníaco e de uma neurose irascível em relação à mulher, ao filho e a todos ao seu redor. A droga, obviamente, é apenas um catalisador que desperta a repulsa que ele sente por si próprio e pelo mundo entorpecido e passivo no qual se vê preso. Na verdade, seu desespero é tão profundo que quando, finalmente, ele decide que precisa salvar o filho das depravações da humanidade matando-o e sua esposa (Barbara Rush) o recorda que Deus impediu Abraão de matar Isaac, Mason se limita a responder: “Deus estava errado”.

Um filme hollywoodiano profundamente radical para a época, que se destaca não só por seu desprezo pela ideia suburbana de “normalidade”, mas também pela clareza belamente apavorante da sua intensidade colorida em CinemaScope. Uma obra-prima.

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- enquanto Nicholas Ray leva 15 minutos pra fazer a mais mordaz e efetiva crítica ao extremismo religioso, outros cineastas necessitam de um filme inteiro pra chegar ao mesmo fim. Se Delírio de Loucura tratasse apenas disso a comparação já seria muito desfavorável, mas diante do seu extraordinário escopo, cuja religião constitui apenas um dos seus inúmeros pilares, ela chega a ser injusta;

- embora Juventude Transviada (1955) seja anterior a Delírio de Loucura, tudo nos leva a crer que Nicholas Ray enxergava na vivência do pequeno Richie Avery (Christopher Olsen) como teria sido a infância de Jim Stark (James Dean): a conturbada relacão geracional - entre pais e filhos - nos EUA do pós-guerra;

- só mais dois cineastas poderiam ter assinado essa produção sem comprometer o seu resultado: Vincente Minnelli e Douglas Sirk. O melodrama, o CinemaScope e a abordagem crítica do american way of life também eram as suas especialidades.

6 comentários:

  1. um grande filme, rodrigo. com ótima atuação de mason.

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    1. Nahud, ainda não vi um Nicholas Ray que não fosse um grande filme

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  2. CAMPANHA: NOSSO FOCO É O CINEMA

    Para um BLOGUEIRO CINÉFILO cinema é arte, talento e magia. Ele lê muito sobre a sétima arte, pesquisa, passa horas diante do computador, coleta imagens raras e principalmente vê filmes, muitos filmes. Movido pela paixão cinematográfica, abre as portas para um novo mundo. O que mais o anima a continuar são os COMENTÁRIOS dos internautas. Tornar-se SEGUIDOR do seu blog é uma grande alegria. Pense nisso e apoie os blogs cinéfilos DEIXANDO COMENTÁRIOS e SEGUINDO-OS. O cinema agradece.

    O Falcão Maltês

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    1. Nahud, você é praticamente o mediador de uma penca de blogs cinéfilos, inclusive, se você não tivesse "me achado", eu provavelmente estaria "escrevendo no escuro". Todos os blogs listados ao lado foram frutos da navegação que eu fiz no seu espaço. Embora o tempo conspire cada vez mais contra essa iniciativa, vou me policiar para "trocar mais figurinhas" com os nossos colegas. Gde Abraço.

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  3. Olá Rodrigo,

    Parabéns pelo post, pelo blog e obrigado por visitar o Clube do Filme! Já estou te indicando por lá!

    Abraços,

    Leonardo.
    http://clubedofilmeleleo.blogspot.fr/

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