quinta-feira, janeiro 20, 2011

O dinheiro (Robert Bresson, 1983)


O enquadramento em Bresson é primoroso, preciso. Pleno de informação. Vejo seus filmes tão esvaziado de expectativas, quase como uma obrigação, e sempre, sempre, sempre, sou forçado a rever minha indiferença: ele é simplesmente um gênio.

Eu pensava que O dinheiro caminhava para um desfecho a la Pickpocket (1959), do mesmo Bresson, que aliás eu tenho em alta conta. Depois de uma hora de projeção, quando o verde toma conta da tela - a cidade sai de cena - e o campo empresta sua aura imaculada ao mundo sombrio que prevalecia até então, uma senhora em forma de anjo irrompe no quadro e desarma todo o preconceito que eu já começava a nutrir pelo protagonista. Em uma cena pra se guardar na memória, em registro idílico, autêntico, o herói se põe a coletar avelã para a senhora, enquanto ela pendura lençóis brancos em um varal ao sopro do vento vespertino.

Como dizia no início do post, o enquadramento em Bresson é tudo. Ao longo da projeção ele nos avisa qual será o paradeiro de seu herói. São inúmeras cenas de portas, grades, trincos, cadeados, gavetas. Está tudo confinado. Inclusive seu protagonista. Na verdade, todos nós.

Meu apreço por Aurora (2010), de Cristi Puiu, que eu não havia gostado tanto na ocasião da Mostra, até aumentou. Bendito seja Bresson!

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